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não-proliferação nuclear
2008-08-06

Dsisaku Ikeda, presidente de uma das organizações pacifistas mais influentes do Japão, assegura que “para reviver e dar nova energia aos esforços em prol do desarmamento nuclear é preciso desafiar o conceito de que as armas atômicas são um mal necessário”. A rede não-governamental Soka Gakkai Internacional, com sede em Tóquio e mais de 12 milhões de membro em 190 países, está intensificando os esforços para conseguir o objetivo de um mundo livre de armas nucleares. “Devemos lembrar às pessoas que, embora atualmente não estejam sendo usadas, essas armas representam um enorme custo de recursos monetários, tecnológicos e humanos que consomem para seu desenvolvimento e manutenção”, disse Ikeda, que também, além de ativista pela paz também é filósofo budista.

A intensificação da campanha coincide com o aniversário do lançamento de duas bombas atômicas sobre o Japão pelos Estados Unidos. A primeira atingiu a cidade de Hiroxima no dia 6 de agosto de 1945, marcando o começo do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Uma segunda bomba foi lançada sobre Nagasaki no dia 9 desse mesmo mês. O Japão se rendeu no dia 15. Um ano depois, 140 mil pessoas haviam morrido em conseqüência dessas explosões nucleares.

O Japão, em aliança com a Alemanha nazista e a Itália fascista, entrou na guerra em 1941, como correlato de sua política expansionista, que já o levara a invadir a China em 1937. O prefeito de Hiroxima, Tadatoshi Akiba, disse que essa cidade é uma peça-chave na campanha que busca eliminar as armas nucleares até 2020, da qual participa junto com o grupo “Prefeitos pela paz”.

Em entrevista à IPS, Ikeda disse que os habitantes de Hiroxima e Nagasaki não deixaram de elevar suas vozes para lembrar ao mundo a ameaça que representam as armas nucleares.

IPS - Até que ponto o governo do Japão apóia esta campanha? Que impacto pode ter esta iniciativa sobre o desarmamento nuclear quanto todas as anteriores não tiveram sucesso?

Dsisaku Ikeda - A falta de vontade das potências nucleares é um ponto-chave que impede o desarmamento. Mas, ao mesmo tempo, creio que a falta de interesses, a inexistência de um sentido de urgência entre os cidadãos do mundo é outro fator fundamental. Acredito que esta campanha é fruto do poderoso e irrefreável sentido de responsabilidade que experimentam as vítimas dos bombardeios atômicos em relação às futuras gerações. Na cúpula de julho de Grupo dos Oito países mais poderosos foi emitida uma declaração fazendo referências específicas à necessidade de chegar ao desarmamento nuclear.

Foi o primeiro pronunciamento desse tipo do G-8 UE inclui Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia. Como país anfitrião desse encontro, o Japão tem uma responsabilidade especial quanto ao desarmamento nuclear. Devemos reviver um estado de consciência, que nasce do senso comum, sobre a irracionalidade da opção pelas armas nucleares, e para conseguir isto é fundamental que os cidadãos comuns continuem expressando sua oposição através de instrumentos como esta campanha.

IPS - Qual é sua reação diante dos cépticos que dizem que o desarmamento é uma meta inalcançável, considerando que o mundo aceitou nas últimas três décadas a entrada no “clube atômico” de três novos membros, como Índia, Israel e Paquistão?

Dsisaku Ikeda - A tentação de baixar os braços certamente existe. Mas, não podemos nos dar a esse luxo, porque a presente situação é insustentável. Se pensarmos sobre o assunto, fica claro que a posse de armas nucleares apenas intensifica a desconfiança mútua e as suspeitas. Aumentam as tensões e as ameaças à segurança nacional nas relações entre os Estados. Ao mesmo tempo, é impossível imaginar que as armas nucleares sirvam como dissuasão para os grupos terroristas.

Por certo, confiar nelas para alcançar objetivos de segurança no mundo de hoje é, no mínimo, uma proposta duvidosa. Devemos enfocar o tema do ponto de vista que pode ser chamado de “novo realismo”. Pensemos sobre os países que estavam desenvolvendo, ou já possuíam, armas atômicas, mas as abandonaram porque decidiram que tê-las não ajudava aos seus interesses de segurança nacional. Brasil, Argentina, Bielorússia, Cazaquistão, Líbia, África do Sul e Ucrânia optaram por este caminho. Baseados em acordos de segurança regional se deram conta de que podiam atingir seus objetivos sem depender das armas nucleares.

A única defesa total é sua eliminação e a seguranças de que nunca voltarão a ser produzidas. Devemos garantir que todos os materiais passíveis de fissão que podem ser usados para fabricá-las sejam rigidamente controlados, em condições confiáveis. Isto não só promoverá a segurança nacional como, também, a da humanidade. Abolir os arsenais atômicos é a alternativa mais realista que temos.

IPS - O senhor acredita que as cinco maiores potencias nucleares (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China) têm autoridade moral para pedir o desarmamento ou a não-proliferação delas quando elas próprias se negam a desmantelar seus arsenais?

Dsisaku Ikeda - Já há muito tempo se diz que cabe a elas a principal responsabilidade. Esta é a razão pela qual continuo reclamando o reinício das paralisadas negociações sobre desarmamento entre Estados Unidos e Rússia. E é também a razão pela qual exorto esses cinco países a desenvolverem um contexto internacional com uma data limite obrigatório para chegar ao desarmamento nuclear. Em 2010 haverá uma conferência internacional para revisar o Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares. é preciso voltar ao seu espírito original: evitar o perigo da guerra atômica e salvaguardar a segurança dos povos. Deve-se encontrar um caminho para promover a não-proliferação e o desarmamento, para ajudar as nações a se libertarem da dependência a respeito das armas nucleares.

IPS - Em setembro de 1981 Israel bombardeou uma suposta instalação nuclear no Iraque e em setembro do ano passado lançou um ataque semelhante contra uma instalação na Síria. Israel tem o direito moral para agir desta forma, violando soberanias nacionais e possuindo armas nucleares?

Dsisaku Ikeda - Os povos de todas as nações têm o direito de viver em paz e segurança. E cada país deve perseguir esse objetivo através de meios pacíficos. O uso da força militar nunca produz verdadeira estabilidade. A força cria novos círculos de ódio e ressentimento, deixando um legado negativo para todas as partes. As faíscas do conflito não podem ser extintas com mais fogo. É preciso água. Em lugar de chamas do ódio, necessitamos de uma torrente de diálogo. É a melhor forma de apagar o incêndio.

(Por Thalif Deen, Envolverde, IPS, 05/08/2008)


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