A Archer Daniels Midland (ADM), a maior processadora de grãos do mundo, sinalizou na terça-feira (5) uma onda de expansão no Brasil, após expor um tom relativamente pessimista sobre a produção de etanol de milho americano.
A ADM, uma grande produtora de etanol, tem sido uma animadora de torcida para o setor nos Estados Unidos, mas sua expansão no setor de etanol baseado em cana-de-açúcar do Brasil sugere que ela deseja diversificar da produção baseada em milho.
O setor de etanol americano está sob pressão financeira nos últimos meses devido à alta do preço do milho. Apesar do preço do milho ter caído acentuadamente no mês passado, o setor ainda enfrenta dificuldades.
Os subsídios pagos à indústria estão sofrendo crescente escrutínio, já que a produção de etanol é vista como um fator que está contribuindo para a alta do custo dos alimentos.
Cerca de um terço da produção americana de milho deste ano deverá ser usada para produção do combustível. John McCain, o candidato presidencial republicano, está entre aqueles que se opõem aos subsídios.
No mês passado, a ADM se uniu a outras grandes empresas pró-etanol no setor de agronegócio, como Monsanto, Deere e DuPont, para expor seu argumento por meio de anúncios e reforçar o lobby no Congresso americano.
John Rice, o vice-presidente executivo, comercial e de produção, notou na terça-feira que, ao mesmo tempo em que aumentam os preços do milho, o setor também está enfrentando uma série diferente de custos mais altos.
"O custo para construção de usinas - como aço inoxidável, os custos de mão-de-obra e tudo mais - atualmente está subindo", ele disse. "(Os produtores de etanol) não vêem margem no momento e encontrar capital também está muito difícil."
O tom pessimista em relação ao etanol americano contrasta com os planos brasileiros da ADM, à medida que ela confirmou os relatos de que estava negociando ingressar na produção de etanol de cana-de-açúcar.
"Nós estávamos interessados e continuamos interessados em investir no processamento de açúcar e etanol no Brasil, e estamos negociando com vários parceiros potenciais", disse Patricia Woertz, presidente-executiva.
Rice disse que a empresa investirá muito além do setor de etanol. "Nós estamos olhando para isto como toda uma gama de novas oportunidades para a ADM", ele disse.
Woertz também descartou a ameaça do Brasil de agir legalmente contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio em torno das tarifas sobre o etanol.
A ADM divulgou na terça-feira resultados trimestrais abaixo das expectativas de Wall Street, já que fracassou em traduzir o boom dos preços dos commodities em crescimento dos lucros. Os lucros caíram para US$ 372 milhões, ou 58 centavos por ação, em comparação a US$ 955 milhões, ou US$ 1,47 por ação no ano anterior, apesar dos números de 2007 terem sido reforçados por várias transações únicas.
As ações da ADM caíram 4,7%, para US$ 26,10, no final da manhã de terça-feira em Nova York.
(
Financial Times, 05/08/2008)