Todo mundo concorda sobre os aspectos negativos da quantidade de sacolas de plástico que são encontradas tanto na natureza quanto na cidade. Daí vem a pergunta: como poderíamos retirar essas sacolas de circulação?
Certamente não poderíamos eliminá-las de uma hora para outra. Oitenta por cento da população porto-alegrense reutiliza essas sacolas para colocar o lixo doméstico ou simplesmente as coloca fora.
A retirada das sacolas poderia causar uma ação contrária à proposta da coleta seletiva, uma vez que as pessoas, ao invés de separar o lixo seco do orgânico, em duas sacolas, poderiam utilizar apenas o grande saco preto de lixo para dispor os dois tipos de resíduos, e acabar assim com anos de esforço da educação da reciclagem.
Paradoxalmente, nossa proposta, ao contrário de eliminá-las, é mudar as cores das sacolas de plástico, transformando-as em duas cores paradigmáticas: a verde destinada a recolher o lixo seco e a laranja destinada a recolher a matéria orgânica.
A cidade de Porto Alegre não tem, como em alguns outros países, contêineres distribuídos pela prefeitura e capazes de absorver no mínimo esses dois tipos de resíduos. E talvez, se tivesse, não daria certo, devido ao grande número de catadores que vivem e sustentam suas famílias a partir dessa atividade. Para fazer essa separação do lixo doméstico, a peculiaridade de cada sacola preenche perfeitamente tal função, a um baixíssimo custo. A mudança de cor, somada a uma campanha de promoção à reciclagem feita pelos supermercados, os grandes distribuidores, reforçaria esta proposta. Os supermercados, mais do que ninguém, sabem o transtorno que representaria eliminar essas sacolas.
Vejamos outro importante detalhe: os porto-alegrenses recebem mais sacolas que a capacidade de usá-las, muitas delas acabam indo dentro de outras sacolas para o lixo. Os puxa-sacos estão cheios de sacolinhas. E poucos consumidores têm o hábito de levar suas próprias sacolas, ou mesmo possuem um carrinho de feira para fazer suas compras – o que certamente reduziria significativamente o número de sacolas de plástico que circulam por aí afora. Outra atitude seria, a exemplo de outros países que conseguiram reduzir em 95% o uso da sacola plástica, cobrar alguns centavos por ela. Isso pouco a pouco forçaria os clientes a adotarem a utilização de sacolas não-descartáveis de pano, de plástico reforçado, bolsas ou carrinhos para suas compras.
Achamos que essa iniciativa deveria ser experimentada nem que fosse em um só bairro de Porto Alegre. A rede de comerciantes lentamente poderia adotar essa política, não, obviamente, com a finalidade de lucrar com a venda dessas sacolas, mas de conscientizar sobre o malefício ambiental que elas representam, ainda que possam ser recicladas.
(Por Fernando Freitas Fuão, Professor de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, Zero Hora, 06/08/2008)