O volume de resíduos gerados pela construção civil já supera o de lixo doméstico em capitais brasileiras. Em Salvador (BA), a quantidade de entulho recolhida em obras e reformas quase chega a 60% do total de lixo da cidade --em Goiânia (GO) e em Porto Alegre (RS) esse índice fica em 55%.
O problema ambiental é agravado pelo fato de o lixo ser depositado em local inadequado. Prefeituras não cumprem resolução de 2002 do Ministério do Meio Ambiente que determinou a criação de aterros específicos para o entulho de obras.
Em Goiânia, a agência ambiental do município já autuou todas as empresas que fazem coletas de restos da construção civil por despejo de materiais em áreas não permitidas.
A cada dia são recolhidas na capital de Goiás pelo menos 1.300 toneladas geradas por obras e reformas. A agência aponta o "boom" do setor da construção no país como uma das causas do problema. O PIB (Produto Interno Bruto) da construção civil cresceu 21,7% entre 2004 e 2007.
Em Belo Horizonte (MG), o volume de resíduos produzidos por obras também deve ser superior ao do lixo doméstico. O lixo de construção representa 45% do que é coletado pela prefeitura diariamente e não há dados sobre quatro aterros particulares onde materiais também são depositados. Um aterro próprio para entulhos usado pela prefeitura se exauriu e os rejeitos acabam depositados junto ao lixo comum.
Em São Paulo, são recolhidas por dia 4.000 toneladas de lixo de construções pelas concessionárias da prefeitura. Também há na maior cidade do país 28 mil caçambas particulares cadastradas atuando na coleta de entulho.
Thiago Camargo, membro titular do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ligado ao governo federal, diz que a maioria dos municípios ainda não tem estrutura na área ambiental para fiscalizar e regulamentar a destinação do entulho.
Para ele, as maiores poluidoras são pequenas empresas que atuam de maneira informal. Camargo, porém, diz considerar que o lixo gerado em obras é menos nocivo ao ambiente do que o doméstico por ter um potencial de reciclagem maior.
Em Minas, por exemplo, o Sindicato da Indústria da Construção Civil diz ter criado um "banco" onde construtoras podem comprar e vender terra e entulho descartados de obras.
(Por Felipe Bächtold, Agência Folha, Folha Online, 04/08/2008)