A Toyota Tsusho, trading da montadora japonesa, finaliza estudos para a construção de uma usina de etanol no sudoeste de Goiás. O projeto da Toyota será em parceria com a Petrobras e produtores de cana da região de Itumbiara, cidade onde a usina deverá ser construída.
"Estamos em fase final de viabilidade econômica desse projeto", disse Carlos Ogasawara, assessor da diretoria da trading japonesa. Procurada, a Petrobras confirmou interesse no projeto, mas não detalhou como serão feitos os investimentos.
Segundo Ogasawara, a Toyota e a Petrobras serão sócias de produtores de cana da região. "O projeto não sairia do papel se não achássemos os parceiros agrícolas. Mas já os encontramos e estamos em negociação", disse.
O Valor apurou que os investimentos na usina poderão chegar a US$ 200 milhões. O projeto prevê a moagem de cerca de 4 milhões de toneladas de cana. Toyota e Petrobras serão sócias minoritárias, com cerca de 20% de participação cada uma. Os parceiros agrícolas responderão pela fatia restante. No início de julho, a Petrobras confirmou um investimento desse porte com a japonesa Mitsui em uma usina em Itarumã, também em Goiás. A estatal pretende firmar sociedade com produtores em cerca de 20 projetos de usinas para exportar álcool para o Japão.
Goiás tem recebido pesados investimentos nesse segmento de grupos nacionais e, mais recentemente, de multinacionais. Segundo Luiz Medeiros, secretário de Indústria e Comércio do Estado, tem pesado na decisão desses grandes grupos a construção da ferrovia Norte-Sul, que ajudará a escoar a produção sucroalcooleira.
"A Toyota assinou há algum tempo protocolo de intenções para investir no Estado. Mas os investimentos dependeriam da solução logística", afirmou Medeiros. O Estado já tem licitado 500 quilômetros da ferrovia. "Até 2010 boa parte dela [Norte-Sul] estará em operação", disse.
Prestes a tirar da General Motors o posto de maior fabricante de veículos do mundo, a Toyota está em plena fase de maturação de ambicioso plano de investimentos em uma nova fábrica de automóveis no Brasil. Em meados do mês passado, a montadora confirmou a compra de um terreno em Sorocaba (SP), onde pretende construir uma fábrica de alto volume de produção de carros compactos daqui a três anos.
No mesmo estilo discreto, por meio do qual ganhou espaço no mercado mundial de veículos, a montadora prepara toda a cadeia que cerca o projeto de um novo modelo de carro - da rede de fornecedores de peças ao combustível mais adequado para a região.
Até hoje, a direção mundial da Toyota se mostrava distante do uso do etanol. Mas com a definição da nova fábrica brasileira, para a qual reserva um grande volume de recursos, ainda não detalhados, a empresa mostra interesse em explorar melhor o mercado dos combustíveis alternativos.
No fim do ano passado, Ryuji Yamaguchi, responsável geral pela área de projetos da companhia, disse em Nagoya, sede da Toyota, no Japão, que a empresa quer experimentar todo o tipo de energia alternativa. "Mas alguns tipos, como os biocombustíveis, são difíceis de usar porque há limitações. Somente mercados com estrutura de fornecimento, como o Brasil, podem usar o etanol ", destacou.
Os executivos da Toyota costumam defender a idéia de desenvolver o carro certo para cada mercado. O responsável pelas vendas na divisão Américas, Shunichi Nakanishi, também revelou na ocasião que o custo da importação do combustível brasileiro pelo Japão pode não compensar.
Para mercados com consumidores de maior poder aquisitivo, como Japão e Estados Unidos, a empresa continua empenhada no aperfeiçoamento dos modelos híbridos. A Toyota foi uma das primeiras a lançar carros híbridos, há dez anos, e hoje oferece oito modelos desse tipo de automóvel, que alterna o uso de baterias e gasolina. As vendas ainda se concentram nos mercados de países desenvolvidos. Trata-se de uma tecnologia ainda cara para mercados como os países da América do Sul.
Além do projeto de usina em Goiás, a montadora poderá investir em outras regiões do país. A trading poderá fazer parceria com as construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão, além da Petrobras novamente e a trading japonesa Itochu em projetos de biocombustíveis na Bahia e Pernambuco.
Em nota divulgada pela Petrobras no mês passado, essas empresas assinaram memorando de entendimento que prevê estudos para avaliar o potencial "de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e o biodiesel a partir de pinhão-manso, mamona e dendê" na região chamada de "Canal do Sertão Pernambucano". Segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE), esse projeto tem tudo para sair logo do papel.
(Por Mônica Scaramuzzo e Marli Olmos com colaboração Carolina Mandl,
Valor Online, 05/08/2008)