O pecuarista Nicácio Cabral de Menezes, de Água Azul do Norte, no Pará, tem uma explicação para o fracasso dos três leilões para a venda do gado apreendido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante a Operação Boi Pirata, realizada em junho, na Estação Ecológica da Terra do Meio, no sudeste do Pará.
“Fazendeiros não compram gado pela internet, porque nada substituiu um olhar mais apurado e minucioso”.
Para o pecuarista, se o gado do Ibama estivesse no recinto do leilão seria mais fácil vender. “Eles não conseguem vender na reserva justamente por falta de estrada, falta de comunicação”, disse.
Segundo ainda o pecuarista, “se o gado estiver magro é preciso recuperá-lo antes de iniciar uma longa viagem. Se soltar o gado na estrada no estado em que se encontra, poderá morrer mais da metade por causa da seca. Então é preciso deixar o gado pelo menos 90 dias em boas pastagens. E a retirada do rebanho terá de acontecer até dezembro, porque depois os rios enchem e fica quase impossível a sua travessia no Rio Bala - saída da reserva -, e em outros rios no percurso de 300 quilômetros até chagar em São Félix do Xingu”.
A internet na região é precária, e segundo usuários da internet, para enviar uma mensagem a demora é de até duas horas, quando consegue.
“Apenas os jovens e adolescentes têm paciência e tempo para ficar na frente de um computador tentando usar a internet”, desabafa Beatriz Rodrigues Silva, que estava em uma lan house (estabelecimento comercial onde as pessoas pagam para utilizar um computador com acesso à internet) em São Félix do Xingu, tentando enviar mensagem para os filhos em Goiânia.
O vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de São Félix do Xingu, José Wilson Alves Rodrigues, confirma que não tem como os pecuaristas da região participarem de leilão virtual. “Quem tem acesso à internet aqui é banco, que possui torre própria”, disse Rodrigues, acrescentando que na cidade tem apenas algumas pequenas torres com acesso para cinco internautas, que são disputadas por 500 pessoas.
Mas não é apenas a precariedade para o uso da internet que explica o fracasso do leilão virtual das 3.146 rezes. O preço e as péssimas condições da estrada também dificultam a venda do gado aprendido, segundo pecuaristas da região.
Um leilão de gado realizado neste final de semana no Tartesal - recinto de leilões de animais -, do Sindicato dos Produtores Rurais de São Félix do Xingu, mostrou que houve uma queda nos negócios de compra e venda de gado. Das 750 cabeças ofertadas em 44 lotes, apenas 280 foram vendidas. Os dois terços restantes - 470 rezes - não tiveram compradores, apesar de todo o esforço do leiloeiro Antônio Magno para estimular os compradores, ao enaltecer a qualidade superior de alguns lotes do rebanho.
O preço médio dos bezerros desmamados vendidos no leilão foi de R$ 450, enquanto o preço das novilhas foi de R$ 630 e o preço médio de uma vaca ficou em R$ 731. Já o boi magro para engorda foi vendido por R$ 790.
Para Élder Dias de Mendonça, da Xingu Leilões, a queda no volume de negócios foi provocada pela baixa no preço do boi gordo, que caiu de R$ 80 a arroba em junho para R$ 68 à vista ou R$ 70 com prazo de pagamento de 30 dias.
A queda no preço é apontada como outra dificuldade para a venda do gado apreendido pelo Ibama. Mesmo com a redução do preço mínimo de três milhões de reais para R$ 1,4 milhão para o leilão virtual de todo o rebanho, um preço médio que está um pouco abaixo de R$ 500 por cabeça de gado, a distância e a precariedade da estrada não anima os compradores.
Apesar de o preço mínimo do Ibama estar abaixo do que é praticado no mercado, o vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais garante que os pecuaristas não estão boicotando o leilão.
“Não há boicote, os pecuaristas da região são habituados a comprar gabo bovino indo às fazendas ou aos leilões em recintos próximos às cidades e do local para onde vai o rebanho. Para vender essa quantidade de gado - 3.146 cabeças -, é preciso dividir o rebanho em vários lotes, de acordo com a idade, sexo, tamanho e padrão genético”, explica Rodrigues.
Ele garante ainda que nenhum pecuarista tem pasto suficiente para colocar todo o gado à venda na fazenda. “Separando por lotes, cada um compra o tipo que deseja e a quantidade que necessita”, sugere o dirigente do sindicato dos produtores ruais.
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Agência Brasil, 05/08/2008)