Um grupo internacional de pesquisadores descobriu que métodos de criação de animais chegaram ao sul da África em uma onda migratória, há cerca de 2 mil anos, e não a partir da troca de influência entre povos vizinhos, como se acreditava até então.
Por meio de uma técnica genética desenvolvida na Universidade de Stanford, Estados Unidos, os cientistas encontraram evidências de como os povos pré-históricos compartilharam conhecimento em processos que levaram ao avanço da civilização.
Segundo o estudo, a descoberta ajuda a entender melhor como as culturas antigas interagiam entre elas e como as sociedades aprenderam a adaptar avanços. Os resultados serão publicados esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
Os pesquisadores investigaram variações genéticas no cromossomo Y, que é passado de pai para filho com muito poucas alterações de uma geração a outra. Trabalhos anteriores apontaram que houve pouco contato entre os povos pré-históricos no leste e no sul da África, com apenas duas migrações conhecidas entre 30 mil e 1,5 mil anos atrás.
Segundo essas pesquisas, depois que falantes da linguagem bantu se deslocaram do leste para o sul há 1,5 mil anos, a agricultura deslanchou na parte meridional do continente. Mas o problema é que o período da migração bantu não se encaixava com as evidências antropológicas de 2 mil anos dos primeiros rebanhos de ovinos e bovinos no sul, verificadas em outras pesquisas.
Por conta disso, os antropólogos não sabiam se o conhecimento das atividades de pastoreio derivava de uma onda de conhecimento que se espalhou com a migração bantu ou se era resultado de um deslocamento separado.
Os pesquisadores analisaram cromossomos Y de homens de 13 populações na Tanzânia, no leste do continente, e na região fronteiriça entre Namíbia, Botsuana e Angola, ao sul. Descobriram, em indivíduos nos dois locais, uma mutação compartilhada que implica um ancestral comum.
Em seguida, verificaram que a mutação surgiu no leste africano há cerca de 10 mil anos, e que foi levada por movimentos migratórios para o sul 8 mil anos depois. A mutação não foi identificada entre falantes das línguas bantu, o que indica que um grupo diferente, de falantes de línguas nilóticas, foi quem primeiro levou rebanhos para o sul, antes da migração bantu.
A evidência genética se encaixa com a semelhança em manifestações culturais (como cerâmica) e lingüísticas entre os habitantes das duas partes do continente.
“Quando vemos linhas de evidência convergirem em um único modelo, significa que algo nesse sentido realmente ocorreu”, disse Brenna Henn, de Stanford e um dos autores do estudo. “A África tem uma das maiores diversidades genéticas no mundo, mas é um dos locais menos estudados. Ela esconde muitas histórias sobre as quais ninguém até hoje se interessou.”
O artigo Y-chromosomal evidence of a pastoralist migration through Tanzania to Southern Africa, de Brenna Henn e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
(Agência Fapesp, 05/08/2008)