A crescente criminalização dos movimento sociais encabeçada pelo governo tucano de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul atingiu pontos inimagináveis como o Ministério Público gaúcho cogitar a dissolução do MST. A intenção apareceu pela primeira vez em uma ata do Conselho Superior da instituição, durante reunião no final de 2007. Na ocasião, foi decidido proibir qualquer deslocamento de trabalhadores sem terra, incluindo marchas e caminhadas, intervir em escolas de assentamentos, criminalizar lideranças e integrantes e "desativar" todos os acampamentos do Rio Grande do Sul.
De formas menos ou mais graves, as decisões já estão sendo postas em prática desde o ano passado. Mais recentemente, dois acampamentos, em áreas cedidas, foram despejados e o acampamento de Nova Santa Rita, em uma área de assentamento, foi congelado, com as famílias impedidas de entrarem ou saírem do local. A escalada é também no uso de violência pela Brigada Militar em mobilizações de qualquer movimento social, como no último Dia Internacional da Mulher, quando dezenas de pessoas foram feridas por balas de borracha e cassetetes.
Em junho deste ano, a ação civil pública apresentada pelos promotores Luís Felipe de Aguiar Tesheiner e Benhur Biancon Junior, do Ministério Público, pedindo a desocupação de dois acampamentos do MST, na região norte do Estado, parece uma peça saída dos tempos da ditadura. As frases que compõem o documento são de dar medo. Na avaliação dos promotores, os acampamentos eram “verdadeiras bases operacionais destinadas à prática de crimes e ilícitos civis causadores de enormes prejuízos não apenas aos proprietários da Fazenda Coqueiros, mas a toda sociedade”. Essa terminologia resume uma lógica de argumentação que muitos julgavam estar extinta no Brasil. O relatório apresenta o MST como uma ameaça à sociedade e à própria segurança nacional.
Em meio a este clima, foi inaugurada segunda-feira (4) em Porto Alegre a exposição fotográfica “A Luta pela Reforma Agrária no RS”, às 18h30min, no hall de entrada da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. A mostra reúne fotografias de quatro repórteres fotográficos gaúchos em uma homenagem aos 30 anos de luta e conquistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no Estado. Eduardo Quadros, Eduardo Seidl, Leonardo Melgarejo e Roberto Santos abrem seus arquivos fotográficos para relembrar fatos passados entre 1980 e 2008. A exposição, organizada pelo gabinete do deputado estadual gaúcho Dionilso Marcon (PT) e pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, deve iniciar uma itinerância pelo Estado a partir de 10 de agosto.
“Para falar sobre a trajetória do MST é preciso recordar a história da concentração fundiária que marca o Brasil desde a chegada dos colonizadores portugueses. Os trabalhadores rurais sem terra são parte de uma resistência que reúne corajosas lutas. Organizamos a exposição em quatro eixos. A luta pela terra no Estado, a produção dos assentamentos, a família e a forma como a luta social congrega porque melhora a condição de vida das pessoas e a função social da terra”, resume Eduardo Seidl.
(Por Clarissa Pont, Carta Maior, 04/08/2008)