Quase três meses após tomar posse como ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc se distancia cada vez mais da antecessora Marina Silva. A começar pelo estilo. Uma recatada Marina deu lugar ao exibicionista Minc.
Na quarta-feira 30, o ministro reuniu um grupo de jornalistas e voou ao Pará. O objetivo foi verificar as queimadas na floresta amazônica, após a divulgação de novos dados que davam conta do crescimento da desvastação no último mês. Minc arriscou-se a deixar o helicóptero e saiu chamuscado. Labaredas lamberam suas roupas e ele teve de voltar às pressas à aeronave.
No quesito exposição à mídia, Minc se iguala ao colega da Defesa, Nelson Jobim, em seus primeiros dias de nomeação. Jobim, empossado em pleno caos aéreo, fez questão de mostrar-se à mídia em diversos trajes, de chapéu de bombeiro a uniforme camuflado do Exército. Deu resultado. O caos aéreo sumiu do noticiário. A aposta no pragmatismo do midiático tem rendido a Minc uma posição confortável no governo, ao contrário do que acontecia com Marina, às voltas com embates internos durante os cinco anos em que ocupou a pasta. A ex-ministra, sempre angustiada, tinha um apelo de missionária. O sucessor está mais para remanescente de Woodstock.
“Para usar uma linguagem alternativa, bem ao gosto dos ecologistas, Marina era Yin e Minc é Yang”, compara um colaborador do atual ministro. “Minc é um operador. Internamente, Marina vivia na defensiva, enquanto ele vive na ofensiva.” A diferença de postura fica evidente no confronto de ambos com um adversário comum: Roberto Mangabeira Unger, o ministro nomeado para pensar o Brasil no longo prazo.
Marina saiu por não aceitar que ficasse com Mangabeira a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Minc prefere comprar a briga e está numa queda-de-braço com o colega por conta da criação do Fundo da Amazônia, que, conforme previsões, deverá arrecadar 900 milhões de reais em doações internacionais só no primeiro ano. O titular dos Assuntos Estratégicos quer gerir esses recursos. Minc não pretende ceder.
Entre operações midiáticas por vezes constrangedoras e frases de efeito, o atual ministro vai cumprindo uma agenda em comum acordo com os interesses da turma desenvolvimentista do governo, em especial a vizinha de Esplanada Dilma Rousseff, da Casa Civil. Anunciou novas medidas para agilizar a liberação de licenças ambientais de projetos de infra-estrutura, um dos principais entraves ao andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e concordou com a construção da usina nuclear de Angra 3, projeto combatido pela pasta do Meio Ambiente nos tempos de Marina Silva. Em troca da aprovação a Angra, exigiu medidas suplementares de contenção de riscos de vazamentos e garantias de que o lixo atômico será tratado de forma adequada.
Uma das ações que ainda não “funcionaram” foram os leilões de gado apreendido em terras desmatadas na Amazônia Legal. Minc ainda não conseguiu vender um único, escasso boi.
(Redação, CartaCapital, 01/08/2008)