Após a apreensão de 3,5 mil cabeças de gado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Operação Boi Pirata, os pecuaristas estão retirando o rebanho bovino das fazendas na área da Estação Ecológica da Terra do Meio (PA), antes mesmo de receber a notificação. A finalidade da ação voluntária é evitar multas, apreensões e processos judiciais.
O pecuarista Alessandro Gonçalves, conhecido pelo apelido de “Batata”, disse que os fiscais do Ibama foram à sede da propriedade e pediram para retirar o gado que está na área da Estação Ecológica da Terra do Meio. Gonçalves está retirando o primeiro lote de gado antes da notificação porque, segundo ele, ao receber o documento o Ibama dá um prazo de apenas 15 dias para o deslocamento. Ele alega que uma quinzena é insuficiente, pois ainda há outro lote para retirar da área.
“Estou me antecipando devido a essa covardia que fizeram com o Lourival Medrada [que teve o gado apreendido pelo Ibama e vai perder toda a infra-estruta construída na fazenda], para não acontecer isso outra vez”, afirma o pecuarista, alegando que esta não é a melhor época para se retirar o gado, porque falta água, as pastagens ao longo da estrada estão secas e os bois vão morrendo de fome e de sede.
Ele informa que o custo de retirada do primeiro lote de vacas (935 cabeças), que já está na estrada, vai passar de R$ 10 mil e que já morreram 18 bois. Os pecuaristas não esperavam a estiagem que está ocorrendo este ano na região. “Estamos há quase 80 dias sem chuva e nunca ficou um mês sem chover aqui antes”, disse o colono Gilberto Alves Olímpio, que há seis anos comprou um terreno na Terra do Meio.
A infra-estrutura e a logística para a retirada do rebanho são precárias. A única via de acesso a São Félix do Xingu é uma estrada de terra. Um caminhão carregado com 18 cabeças de gado demora dois dias para cada viagem, se tudo correr bem. As estradas são esburacadas e com pontes improvisadas com troncos e "pranchões" atravessados sobre os córregos. Não existe ponte de concreto armado, todas são de madeira, e com o peso dos caminhões duram pouco.
O frete sai caro para quem paga e, mesmo assim, não cobre os custos de quem recebe. É o caso do motorista Sebastião Marques, que tombou o caminhão, quando transportava 18 bois e bloqueou a estrada por mais de 12 horas. “O frete aqui na região não pode ser menos de R$ 4 por quilômetro rodado”, explica Marques.
Hoje, o quilômetro está em R$ 3,50, mas os frigoríficos insistem em pagar apenas R$ 2,50. De acordo o motorista, o valor não cobre as despesas com combustível – o litro de óleo diesel custa mais de R$ 3 na Vila Central, único posto de abastecimento na estrada que vai para a Terra do Meio. Cada viagem custa aproximadamente R$ 2,2 mil, dependendo da distância em que estiver o gado.
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Radiobrás, 03/08/2008)