Uma iniciativa do Instituto Morro da Cutia de Agroecologia (Imca) está mobilizando os moradores da cidade de Montenegro (RS), a 55 km de Porto Alegre. A campanha "Sinal verde para o óleo de cozinha" está mostrando que o óleo vegetal, depois de utilizado, não deve ser jogado na pia ou no lixo, hábito que pode contaminar águas superficiais, ecossistemas aquáticos e o solo, impermeabilizando a área afetada.
A campanha, no entanto, vai além do alerta sobre os danos ambientais e sanitários provocados pela destinação inadequada do produto. O óleo de cozinha usado pode ser uma importante matéria-prima para um biocombustível, a qual a eficiência é compatível com a do diesel comum. No município, a população está aprendendo a coletar o produto para que ele possa ser reciclado e utilizado como fonte de energia.
A campanha vem sendo realizada após o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Na edição de 2007 do concurso, o projeto "Óleo Vegetal Usado como Biocombustível" foi vencedor da categoria "Aproveitamento e Tratamento de Rejeitos, Resíduos e Efluentes de Processos Produtivos". Agora, com os R$ 50 mil da premiação, o Imca está investindo na mudança de comportamento dos moradores, na melhoria do sistema de coleta, em equipamentos para o tratamento do óleo usado e na revisão do veículo piloto do projeto.
Para o diretor do Imca, Paulo Roberto Lenhardt, a premiação trouxe visibilidade para o projeto e a oportunidade de novas parcerias. Antes da premiação, o óleo era recolhido somente de restaurantes. Depois, o Hospital da Unimed de Montenegro passou a servir como central de coleta do óleo usado nas residências dos funcionários da instituição.
Lenhardt estima que cada morador utilize 0,81 de óleo vegetal por mês, e a meta é conseguir coletar 10 toneladas de óleo usado até abril de 2009.
Sinal Verde na comunidade
Montenegro deu mesmo um sinal verde para a campanha de educação ambiental e coleta de óleo usado. A educadora Andréa Corline Hartmenn conta que a conscientização está sendo desenvolvida em escolas, associações comunitárias, grupos de pais, em reuniões da terceira idade e até nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs).
Na rede de ensino pública e privada do município, cerca de 5 mil crianças e jovens em idade escolar estão participando da iniciativa.
A campanha também ensina como transformar garrafas PET em vasilhames adequados para a coleta e o transporte do óleo doméstico. Depois de utilizada e devidamente acondicionada, a substância segue para os postos de coleta - um em cada bairro da cidade. A motocicleta do projeto, adquirida com parte do dinheiro da premiação, coleta o material e leva tudo para o depósito que funciona em um espaço cedido pela Prefeitura de Montenegro.
Tecnologia social
A destinação final do óleo vegetal usado na preparação de alimentos nos lares, restaurantes e indústrias é um problema ambiental pouco discutido. Dentre as soluções conhecidas para a reutilização do óleo vegetal, nenhuma leva em conta as potencialidades de sua utilização como combustível para automóveis e utilitários. A tecnologia social "Óleo Vegetal Usado como Biocombustível", além de preservar os recursos hídricos, pode garantir o empoderamento comunitário, ao gerar energia apropriável e reaplicável nas comunidades.
A primeira etapa é a implantação de um sistema de coleta do material. Uma vez recolhido, o óleo é levado à estação de limpeza, onde é filtrado e decantado, tornando-se apropriado para a utilização como biocombustível. Para cada 101, é possível produzir cerca de 61 de combustível.
O óleo vegetal pode ser usado como combustível nos veículos automotores movidos a diesel adaptados para recebê-lo. Como a conversão é simples e de fácil operação, as comunidades que têm seus veículos convertidos passam a deter todas as ferramentas necessárias para incentivar processos de coleta dentro de suas próprias regiões.
O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social concede, a cada dois anos, para cada tecnologia social vencedora, R$ 50 mil destinados a atividades de expansão, aperfeiçoamento ou reaplicação do projeto. A premiação busca difundir produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidos na interação com a comunidade, que representem soluções efetivas de transformação social.
(Jornal Agora, 04/08/2008)