Por Jerônimo Goergen*
São poucos os que contestam a afirmação de que o agronegócio é a mola propulsora do Brasil. Situação já vista há décadas e que nos últimos anos só tem se ampliado, com o constante investimento por parte de produtores e o conseqüente crescimento da colheita nacional. Somos, sim, uma potência na produção de grãos, o que é fato concreto, tendo em vista as safras recordes que se seguem. Só a de 2008 chega à faixa de 142 milhões de toneladas de grãos. O investimento em novas tecnologias, a adaptação a novos manejos nas lavouras e o trabalho duro de quem está na cadeia produtiva garantem números expressivos de superávits e positividade na balança comercial. E de onde vem a base para isto? Do agronegócio. Mas meu ponto de vista avança e estabelece uma posição firme de que o setor primário brasileiro não pode viver apenas de momentos eufóricos, que podem ser passageiros se não houver garantias e apoio governamental.
Como coordenador da Frente Parlamentar Integrada para o Agronegócio da Assembléia Legislativa do RS, convivo com os setores de nossa cadeia produtiva constantemente. Enquanto o Brasil debate as perspectivas para o agribusiness, quanto ao seu desempenho positivo frente ao Exterior, países como a Argentina passam por crises no setor que preocupam autoridades brasileiras, em especial a gaúcha. Em recente viagem ao país vizinho, como observador da Cúpula do Mercosul, pude ver e ouvir de representantes do agronegócio de lá que existe apreensão quanto ao posicionamento do governo argentino sobre manutenção e possíveis aumentos de taxação para o setor. A medida poderia acarretar prejuízo para a produção gaúcha, tendo em vista uma possível alta de produtos. Em um primeiro momento, o governo argentino perdeu a disputa com os produtores, mas é preciso estar atento ao que acontece também com nossos vizinhos, já que uma economia acaba afetando a outra se não houver harmonia nas negociações. Desta forma, o governo pode evitar eventuais períodos de crise.
A alta do preço nos alimentos é um alerta ao governo federal, que agora busca tomar medidas para garantir preços corretos ao consumidor e condições de custos adequados ao produtor. A surpresa com a elevação do preço alimentício só reforça a tese de que o governo não estava devidamente preparado para administrar o crescimento do agronegócio. Vai daí a necessidade de rever estoques, de reduzir as altas tributações do setor, de criar incentivos à produção nacional com novos programas que ampliem seguros agrícolas com financiamentos de safras. Enfim, medidas que permitam aos produtores ganhos reais e competitividade frente a importados. São exemplos que passam pela implantação de uma real política agrícola, que vai bem além de divulgações dos planos safras, sempre aquém das necessidades do agronegócio.
De nada adianta este sentimento se não existem medidas de precaução para o setor como um todo. Já vimos momentos ótimos que vieram sucedidos por crises profundas, de quebra para produtores. Defendo que o governo federal elabore políticas efetivas para o agronegócio brasileiro que garantam crescimento com estabilidade. É preciso criar mecanismos para que toda a cadeia produtiva esteja preparada para enfrentar eventuais períodos de crise, sem prejuízo. Para isso, ouvir o setor é importante e fundamental. Só assim haverá agricultura forte e duradoura, que, por conseqüência, garantirá renda e desenvolvimento social através do agronegócio. A euforia tem de dar espaço à razão e à ação de governo.
(* Deputado estadual, AL-RS, 01/08/2008)