O programa Engenheiros Sem Fronteiras (ESF) quer levar energia solar a 50 escolas em Bafatá, leste da Guiné-Bissau, região onde está também empenhada em conseguir apoio financeiro para projectos de água e saneamento na cidade e zonas rurais. João Rabaça, director do programa ESF, da TESE - Associação para o Desenvolvimento, afirmou que a colocação de painéis solares e a instalação eléctrica nas escolas de Bafatá, 150 quilómetros a leste de Bissau, beneficiaria cerca de 7200 crianças e permitiria inclusivamente aumentar a população escolar, dado que os estabelecimentos de ensino ficariam abertas até mais tarde. "Teria um impacto brutal, uma óptima relação custo-benefício", defendeu o engenheiro.
O projecto "Luz Bin - Promoção da Energia Solar nas Escolas de Bafatá" conta com a parceria da Plan International e foi apresentado ao Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) para financiamento. O custo previsto é 100 mil euros para o primeiro ano, permitindo que, se o financiamento for aprovado, o projecto possa arrancar já em Janeiro de 2009.
Segundo Rabaça, o objectivo é capacitar as associações locais de utentes para fazer a manutenção de todo o equipamento eléctrico, à semelhança do que tem sido feito nos projectos de água e saneamento no país, como os fontanários públicos. "O nosso maior valor é concebermos, melhorarmos e apoiarmos a implementação de modelos de gestão das infra-estruturas, essencial no acesso à água como no acesso ao saneamento, energia ou outros", afirmou João Rabaça.
"A nossa visão é expandir e replicar o que de positivo já se faz localmente. Queremos trazer para o terreno o nosso `know-how´, muito enfocado na sustentabilidade das infra-estruturas, e juntá-lo ao trabalho já desenvolvido pelas entidades locais, em especial organizações náo governamentais e associações guineenses, mas também pelas instituições oficiais", adianta. Outros dois projectos foram identificados durante uma visita à Guiné-Bissau em Abril, financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Dois projectos para melhorar saneamento básico
Já apresentado para financiamento da Comissão Europeia está o "Bafatá Misti Iagu - Abastecimento Integrado de Água e Saneamento à Cidade de Bafatá", tendo em vista assegurar infra-estruturas sociais básicas de água e saneamento a 6000 habitantes da terceira maior cidade do país lusófono, que é hoje um dos mais pobres do mundo. O apoio previsto é de 500 mil euros, para "injectar capital e conhecimento" em associações de utentes da cidade de cerca de 45 mil habitantes.
"Não fazia qualquer sentido uma cidade desta dimensão praticamente não ter abastecimento", quando o modelo das associações de utentes tem dado bons resultados noutros pontos do país, por exemplo em Gabú (50 quilómetros mais a leste de Bafatá). O mais ambicioso dos projectos, avaliado em cerca de 500 mil euros para um período de três anos, visa potenciar os recursos hídricos nas zonas rurais de Bafatá, e deverá contar com apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
Pretende-se construir cerca de 400 latrinas e oito novos sistemas de abastecimento de água alimentados a energia solar, servindo perto de 8000 pessoas. O projecto visa ainda implementar um sistema de gestão de informação sobre água e saneamento, optimizar o modelo e capacitar para a gestão.
"Fontanários e sistemas de abastecimento de água existem um pouco por toda a África, o que não tem havido é quem se preocupe com a sua sustentabilização", afirma João Rabaça. Para o director dos Engenheiros Sem Fronteiras, o essencial "é assegurar que as pessoas que hoje beneficiam do abastecimento continuem a ser beneficiadas daqui a cinco ou 10 anos, por este ou até outro sistema melhor".
(Lusa, Ecosfera, 02/08/2008)