O brasileiro está sujeito a ficar mais e mais doente por conta de fatores sociais. O alerta foi lançado hoje pela Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde, criada pelo presidente da República em 2006. A cerimônia de entrega do relatório final ao presidente Lula ocorreu no sugestivo cenário do castelo mourisco, o edifício histórico da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. O Brasil seguiu recomendação da organização Mundial da Saúde, que criou em 2005 análoga comissão na escala global e recomenda que os países priorizem este tema em suas políticas domésticas.
O relatório, com 230 páginas, traça um quadro sombrio dos impactos sobre saúde das iniquidades sociais, da degradação ambiental e do consumo inconsciente. Os custos para o contribuinte são incalculáveis, tanto do ponto de vista da necessidade de atendimento quanto do prejuízo econômico gerado por morbidade e mortaliade do trabalhador. Falta de saneamento básico, má distribuição da rede de serviços sanitários no território, poluição atmosférica nos grandes centros urbanos, alimentação e nutrição, mudanças no comportamento e estilos de vida, crescimento econômico sem distribuição de renda, condições de trabalho, migração, colonização e urbanização são os mais importantes fatores que geram impactos na saúde da população, de acordo com o relatório.
A Comissão foi formada por 16 lideranças de diversos setores e liderada pelo Presidente da FIOCRUZ, o sanitarista Paulo Buss. Personalidades externas à área médica, como Moacyr Scliar, Lucélia Santos, Zilda Arns, Dalmo Dallari e Roberto Smeraldi, se juntaram a especialistas como Adib Jatene e César Victora.
Um dos exemplos das rápidas mudanças pelas quais o Brasil vem passando - com impactos muitas vezes não considerados nas políticas públicas relevantes - é o da alimentação. Nas últimas décadas, aponta o relatório,houve uma transição nutricional, com a substituição de um padrão baseado no consumo de cereais, feijões, raízes e tubérculos por uma alimentação mais rica em gorduras e açúcares. "Conforme ocorre com os processos de transição demográfia e epidemiológica - explica a Comissão - o processo de transição nutricional é também marcado pela sobreposição de padrões, pela temporalidade indefinida e sobretudo pelas desigualdades de acordo com a estratificação socio-economica." A mudança resultou no aumento de risco de sobrepeso e obesidade, condições que contribuem de forma expressiva para doenças crônicas e incapacidades.
O transporte automotivo também está entre os grandes vilões, mesmo sem considerar os acidentes, que recentemente chegaram a matar mais que a violência. Só na cidade de São Paulo, os custos financeiros das doenças respiratórias e cardiovasculares geradas pela poluição atmosférica passam de US$ 1,5 bilhão por ano.
Se muitos fatores analisados estão vinculados à urbanização, a Amazônia também não está imune nos impactos, principalmente pelas mudanças demográficas e grandes projetos que agravam problemas como aquele da malária, assim como pelos efeitos das queimadas de pastagem ou de derrubada florestal.
(Amazonia.org.br, 02/08/2008)