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mst incra movimentos sociais
2008-08-02
Superintendente do Incra vai à Justiça contra ato de integrantes de movimento que apóia desde a década de 1980

A prolongada invasão da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Estado, iniciada no dia 24, e os atos de vandalismo no prédio se tornaram determinantes para que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) incomodasse um aliado histórico.

Com forte ligação com os grupos de apoio aos sem-terra desde a década de 80, o superintendente regional do Incra, Mozar Dietrich, partiu para o embate. Ele sepultou as negociações com os invasores e encaminhou o pedido de reintegração de posse da área.

— O relacionamento entre o Incra e o MST ficou muito ruim. Eles sempre tiveram os canais abertos, mas agora não vamos mais negociar com eles — afirmou.

O impasse promete se prolongar, já que a Justiça negou os dois pedidos de reintegração de posse encaminhados pelo Incra e pela Superintendência Regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que divide o mesmo prédio na Avenida Loureiro da Silva, na Capital. Para surpresa de Dietrich, o recurso do instituto ao Tribunal Regional Federal também não foi acolhido.

— É uma situação inusitada e que beneficia os invasores, que se valem disso para ficar no prédio, impedindo o nosso trabalho — criticou.

O advogado do MST Jacques Alfonsin diz que desconhece qualquer depredação no prédio, evidenciada por fotos publicadas ontem por Zero Hora, e afirma que o movimento permanece à disposição para conversar com o Incra:

— Pelo que eles me passaram, a vontade de negociar continua de pé. Teria de ouvir do próprio superintendente essa posição de fechar as negociações.

Alfonsin diz que o MST espera definições da Justiça e, por enquanto, permanecerá no local. Os invasores exigem que o assentamento de 2 mil famílias acordado entre o Incra e o Ministério Público Federal no ano passado seja concretizado.

"Eles passaram absolutamente dos limites"

Desde os tempos em que cursou a Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, o superintendente do Incra no Estado sempre esteve ligado a movimentos sociais, entre eles o MST. Filiado ao PT desde 1987, Mozar Dietrich assumiu o cargo em 2006, tendo sido anteriormente assessor do ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto. A invasão e o vandalismo na sede do Incra, que teve salas arrombadas e elevadores estragados, foram a gota d'água para que ele ignorasse a simpatia que tem pelo movimento. Dietrich concedeu ontem entrevista a Zero Hora:

Zero Hora — Como o senhor avalia a invasão ao prédio do Incra?
Mozar Dietrich — A situação é inaceitável, não se justifica essa ocupação. Acabamos fazendo um acordo na terça que também não cumpriram. Em razão disso, entramos na quarta-feira com um pedido de reintegração de posse. Essa ocupação é prejudicial ao Incra e à nossa atividade de atendimento. As pessoas precisam do Incra para encaminhar qualquer negócio com terra. Nós atendemos mais de 300 assentamentos no Estado, e essas pessoas todas precisam de ações do Incra. Portanto, não há como aceitar essa ocupação. Reconhecemos a morosidade no processo, mas isso é da burocracia e não existe nenhuma idéia de retroceder na intenção de desapropriar as áreas e assentar as 2 mil famílias e cumprir o termo de ajuste de conduta.

ZH — O senhor historicamente apóia o movimento. Ele passou dos limites?
Dietrich — Eles passaram absolutamente dos limites. Tínhamos três acordos, e acho absolutamente injustificável o não-cumprimento dos acordos de saída. Sempre estivemos abertos à negociação, mas, no momento, não há mais nenhuma negociação. Aguardamos uma decisão da Justiça. Já estamos negociando com a Polícia Federal a retirada, se não for uma desocupação pacífica. Se houve depredações lá dentro, eles vão ter de responder por isso. Serão identificados e responsabilizados. Entendemos que apoiar a luta pela reforma agrária dentro da legalidade, tudo bem. Agora já está fora da legalidade.

ZH — Esse impasse vai contra eles mesmos, já que o processo de assentamento parou?
Dietrich — Sim. Queremos imediatamente retomar as atividades do Incra em benefício deles próprios. As desapropriações que estão sendo feitas pararam, e isso prejudica a eles próprios.

ZH — O MST perdeu o seu apoio?
Dietrich — Tudo o que é dentro da legalidade tem o meu apoio, como a ocupação do prédio público para fazer pressão para cima do Incra, para ser recebido. Conversamos por mais de quatro horas na quinta-feira da semana passada. Isso tudo está ok. Agora, a ocupação impedindo o funcionamento de órgão público é ilegal e eu não admito.

(Zero Hora online, 01/08/2008)

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