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angra 3 energia nuclear no brasil enriquecimento de urânio
2008-08-01
O maniqueísmo entre ambientalistas e técnicos sobre a energia nuclear existe desde quando se percebeu que esta última não era limpa e, atualmente, quase inviável, pois, entre outras coisas, o megawatt-hora previsto para a produção energética de Angra 3, por exemplo, é estimado em R$170,00, ou seja, duas vezes e meia o estabelecido para a usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, a milhares de quilômetros dos maiores centros consumidores do país, cujo valor licitado por megawatt-hora é de R$70,00.

O aspecto ambiental é outro tópico do maniqueísmo envolvendo ambientalistas, técnicos e por que não os políticos de plantão. Deixando de lado os acidentes fatais não radiológicos e radiológicos que pouco ocorreram, as demais morbidades são proporcionalmente inferiores àquelas ocorridas em outros sistemas de produção energética, incluindo os bioenergéticos. Ocorre, no entanto, que o potencial de um risco de acidente nuclear é elevado e, caso ocorra, é simplesmente irreversível! Um dos grandes problemas, se não o maior, a curtíssimo passo, que ocorre mesmo antes de a usina entrar em funcionamento, é a questão do transporte e armazenamento do lixo radiativo. São rejeitos, roupas, equipamentos que, ou são radiativos por sua própria natureza, ou tiveram contato com radiação e se transformaram em objetos radiativos. A radiatividade pode durar de alguns segundos até milhares de anos, e o contato dela com os seres biológicos é simplesmente letal a partir de dosagens mínimas.

Até o momento, exemplificamos apenas possíveis acidentes radiológicos, semelhantes àquele ocorrido em Goiana, há cerca de quinze anos, quando houve a morte de pessoas que tiveram contato com o Césio 90 – substância altamente radiativa, seja pouco tempo após, ou até recentemente. Há um perigo maior – os acidentes nucleares. Temos, felizmente, poucos exemplos deles no planetinha, no entanto, todos causam sérios problemas ambientais e de morbidez à biosfera.

Teoricamente, uma usina nuclear apresenta funcionamento semelhante às termelétricas: o reator nuclear libera energia nuclear que se transforma em calor, aquecendo água, transformando-a em vapor, este, por sua vez, alimenta uma turbina que acoplada a um gerador transforma a energia mecânica em elétrica. Até aí, tudo bem; não há emissão de gases tóxicos, fumaça, não ocorre praticamente transporte de combustível, enfim, a produção da energia elétrica é considerada limpa.

A energia nuclear primária que inicia todo o processo resulta de um fenômeno físico denominado fissão nuclear onde um nuclídio (núcleo de uma variedade de um determinado átomo) libera grande quantidade de energia. As atuais usinas nucleares em funcionamento no planetinha utilizam o isótopo radiativo do Urânio – o Urânio 235. Diga-se de passagem, o Brasil é um dos maiores portadores de minério de Urânio do mundo.

Não irei nesta crônica entrar em detalhes a respeito do enriquecimento do Urânio necessário para a formação de porcentagem do Urânio 235, o combustível da usina nuclear, no entanto, é importante que seja observada a formação do chamado “lixo atômico”, material altamente radiativo que permanece emitindo radiações por milhares de anos, no caso, um deles é o Plutônio 239, que pode servir de matéria-prima para a produção de bombas nucleares o que, inclusive está gerando conflitos entre os Estados Unidos e seus aliados e o Irã! Para se ter uma idéia, Angra 1 transforma cerca de 3,5% de seu Urânio em resíduos radiativos de elevada atividade, isso representa aproximadamente 700 quilos de lixo atômico por ano, que permanece emitindo radiações por milhares de anos.

Até o final do século passado, o planetinha continha cerca de 300 reatores nucleares do tipo PWR (Pressurized Water Reactor) semelhantes aos do complexo de Angra dos Reis e, apesar da crise energética global, houve, e ainda há, uma tendência muito grande de desativá-los. É importante observar que os países que têm maior quantidade de reatores nucleares, com algumas exceções, são aqueles de pequena superfície, e/ou os que já exauriram quase todas as matrizes energéticas naturais, enquanto os de grande área, ou para fins de estratégia bélica, apresentam poucas usinas nucleares.

O questionamento da viabilidade da energia nuclear com os processos, equipamentos e sistemas de segurança conhecidos no momento, está quase exclusivamente voltado ao aspecto do déficit energético que ocorre por total ausência de gestão e responsabilidade dos nossos

governantes. Acontece, no entanto, que outros questionamentos devem ser tornados públicos, inclusive os ambientais, pois envolvem a economia, a demanda energética e fontes alternativas com conservação de energia, conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida na Terra, o que representa solução ambiental dirigida também ao ser humano.

O país precisa crescer, e muito mais que isto, se sustentar, fazer com que seu povo sobreviva de forma saudável. Tal comportamento é quase sempre promovido exclusivamente pelo Estado, de forma paternalista, herdada dos primórdios de nossa colonização e, frequentemente, o Estado erra, seja por incompetência ou por motivos outros, escusos e de malversação dos dinheiros públicos; infelizmente, não é aconselhável ao Estado se utilizar do refrão  «quem faz, erra».
Com relação à energia nuclear e suas conseqüências em nosso país, pode-se  apenas, em uma primeira instância, ser apontado que os  primórdios de sua utilização para fins de geração de eletricidade se deram em um período hermético à opinião pública e aos pesquisadores, técnicos e cientistas da área energética, seja clássica ou alternativa, ninguém foi convidado a se manifestar a respeito.

Outro aspecto que deve ser tocado é a ênfase como é defendido o programa nuclear pelas atuais autoridades, principalmente aquelas que estão no projeto, constituindo um verdadeiro lobby tecnológico e profissional sobre qualquer facção que se envolva no assunto. Isso é preocupante...

Com a palavra alguma autoridade de plantão que me contradiga!

(Por Paulo Finotti, Celulose Online, 01/08/2008)

Químico Industrial Modalidade Engenharia Química, Professor Universitário, Presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente – SODERMA, ex - conselheiro do CONAMA (1996-2002) e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e da Ordem dos Velhos Jornalistas de Ribeirão Preto.

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