A promessa feita pelo governo de criar uma empresa para cuidar exclusivamente dos biocombustíveis começou a se tornar realidade na terça-feira (29), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empossou a diretoria da Petrobras Biocombustível. A posse do presidente e dos quatro diretores da nova subsidiária aconteceu na cidade de Candeias (BA), minutos depois da inauguração oficial da primeira das três usinas que a Petrobras está construindo no país para produzir biodiesel.
Segundo a Petrobras, a usina instalada na Bahia tem capacidade para produzir 57 milhões de litros de biodiesel por ano, e está apta a trabalhar com matérias-primas de origem vegetal (mamona, girassol, soja, algodão, etc) e animal (sebo bovino, suíno ou de frango), além de óleos utilizados na fritura de alimentos. Com previsão de investimentos de US$ 1,5 bilhão até 2012, a Petrobras Biocombustível irá administrar duas outras usinas _ em Quixadá (CE) e Montes Claros (MG) _ que deverão entrar em operação até outubro. As três usinas, quando estiverem operando com capacidade completa, deverão alcançar a produção anual de 170 milhões de litros de biodiesel.
O presidente da Petrobras Biocombustível é o ex-gerente de Abastecimento da Petrobras, Alan Kardec. Experiente na gestão de usinas, Kardec travou recentemente intensa disputa política pela Diretoria de Abastecimento da Petrobras, mas acabou vencido por Paulo Roberto Costa, que permaneceu no cargo com o apoio do PT. Na presidência da nova subsidiária, Kardec conta com o apoio de diversos partidos da base aliada, como PCdoB, PMDB e PP.
A mistura de perfil técnico com apoio político também prevaleceu nas escolhas de Chanan Rubin (33 anos de Petrobras) para a Diretora Corporativa e Financeira, de Ricardo Castello Branco (31 anos de Petrobras) para a Diretoria Industrial e de Fernando Cunha (30 anos de Petrobras) para a Diretoria de Participações. Rubin e Castello Branco contam com a simpatia dos sindicalistas e petroleiros, e Cunha, que era gerente de biocombustíveis da área internacional da Petrobras, foi indicado pelo PTB.
Para um lugar estratégico e que deve funcionar como o principal elo da nova empresa com a cadeia produtiva de biocombustíveis _ a Diretoria de Desenvolvimento Agrícola e Suprimento _, o presidente Lula já havia manifestado a intenção de nomear alguém de sua estrita confiança e de peso político. A escolha recaiu sobre o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, que já foi vice-governador do Rio Grande do Sul e tem grande experiência administrativa.
Agricultura familiar
Durante a inauguração em Candeias, Lula lembrou que a agricultura familiar será responsável pelo fornecimento de 58% do total de matéria-prima comprada para o funcionamento da usina: “A agricultura familiar pode compatibilizar a produção do alimento que comemos com o combustível que precisamos para transportar esse alimento até aos consumidores brasileiros. Não há incompatibilidade. É só fazer um zoneamento agrícola correto, demarcar a área para cada coisa”, disse o presidente.
Logo após a posse do presidente e dos diretores, aconteceu a primeira reunião do Conselho de Administração da Petrobras Biocombustível. Presidente do conselho, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, disse que a chegada da nova empresa vai permitir “um salto produtivo” para a agricultura familiar: “Estamos certos de que, com a Petrobras Biocombustível, os agricultores familiares passarão não somente a produzir mais oleaginosas para biocombustíveis, como também mais alimentos”, disse o ministro.
O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, anunciou que 28.922 produtores vinculados a cooperativas ou associações de agricultores familiares de 264 municípios da Bahia e de Sergipe já plantam girassol ou mamona para o suprimento da usina de Candeias. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Petrobras forneceu 205,2 toneladas de sementes de mamona e girassol certificadas pela Embrapa para agricultores dos dois estados, além de contratar empresas de assistência técnica e extensão rural para orientar os agricultores durante o plantio e a colheita.
(Por Maurício Thuswohl, Carta Maior, 31/07/2008)