Aquecimento de um grau nas águas do mar no sul do continente, aliado à escassez de peixes para alimentação. Estes são os fatores que estão trazendo os pingüins ao Brasil em números nunca vistos e tão longe: aves foram recolhidas até em Recife. Só no Instituto Organização Consciência Ambiental (Orca), no Espírito Santo, estão 150 animais.
O pesquisador marinho Lupércio Araújo, do Instituto Orca, vem discutindo as causas da chegada de pingüins ao Brasil com especialistas de vários centros de pesquisa. Entre eles, do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Cram), que pertence ao Museu Oceanográfico da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), do Rio Grande do Sul, e do IFAW, sigla em inglês do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal.
Para os pesquisadores, o aquecimento de um grau Celsius da água do mar na Patagônia, de onde vêm os pingüins, aliado à falta de peixe ao norte das correntes marinhas, onde habitualmente as aves chegam, na altura do Rio da Prata e até no sul do Brasil, debilitam os animais. Famintos, eles são então simplesmente arrastados por correntes marinhas para o litoral brasileiro, nesta quantidade jamais vista, e tão longe.
Segundo organizações internacionais, como a WWF, o gelo cobre hoje 40% a menos da região oeste da Antártida que há 26 anos. Os bancos do camarão kril, que é o principal alimento dos pingüins, estão exauridos.
O pesquisador capixaba aponta e lamenta a degradação do mar em escala planetária. O resultado, no caso dos pingüins, são problemas para os que se dedicam a cuidar das aves. Há omissão dos governos, seja através do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), seja dos governos do estado e das prefeituras.
O Espírito Santo não tem um local para reabilitação de animais marinhos, como defende Lupércio Araújo. E sobra para o Instituto Orca, para onde os animais são levados. Nesta quinta-feira (31/07), 150 animais estavam no local, dos 300 animais que chegaram, muitos dos quais já mortos.
E não há comida nem pessoal em quantidade para tratar os pingüins. Como resultado, o próprio pesquisador sai em busca de doação de pequenos peixes, as sobras que os pescadores descartam, para tratar as aves.
O pesquisador informou que um observador que navegou da Argentina para o Espírito Santo relatou que a maior concentração de pingüins simplesmente boiando no mar é entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Muitos dos animais permanecem vivos pois são alimentados pelos pescadores em alto mar.
Lupércio Araújo acredita que os pingüins vão continuar chegando até os meses de outubro ou novembro. Cobra uma mobilização para salvar os animais e já discute duas possibilidades: uma, de soltar os pingüins recuperados em grupos nos próprios estados onde foram recolhidos, ou, recolher todos em um navio para transportá-los para a Patagônia.
Os pingüins que chegam ao Brasil saem do Estreito de Magalhães, no sul da Patagônia. Chegam ao Brasil pela corrente das Malvinas. Seu peso normal é de cerca de 3,5 a 4 quilos. No Instituto Orca chegam inteiramente debilitados, alguns pesando apenas 500 gramas. São em geral animais novos.
Recolhido do mar, o animal tem de ser aquecido, por exemplo, numa caixa com lâmpada. Jamais deve ser colocado em ambiente gelado. Muitos animais precisam de reidratação, outros de serem alimentados individualmente, e alguns precisam de medicação.
Depois de recolhido, a pessoa deve fazer contato com a Polícia Militar Ambiental ou com o Ibama, para o recolhimento do pingüim. Os telefones da Policia Ambiental são: da sede do BPMA, na Serra, (27) 3238 1385; 1ª Companhia, em Cariacica, 3336.4515 - 3336.9255 - 3336.98732; 2ª Companhia, em Colatina, 3721.33463; 3ª Companhia, em São Mateus, 3763.36634; 4ª Companhia, em Cachoeiro de Itapemirim, 3521.3358 - 3521.3389. Os telefone do Ibama são 3089-1071 e 3089-1072.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 01/08/2008)