A bacia do Prata é a segunda maior da América do Sul, formada pelos rios Paraguai, Paraná e Uruguai que, juntos, drenam uma área correspondente a 10,5% do território brasileiro. Com 3,2 milhões de quilômetros quadrados, abrange no Brasil os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Sob seu espaço de influência estão outros quatro países - Uruguai, Bolívia, Argentina e Paraguai, este o único cujo território fica integralmente na bacia do Prata.
No total, dela depende a qualidade de vida de mais de 130 milhões de pessoas, distribuídas por cidades como Buenos Aires, capital argentina, e Montevideo, do Uruguai.
Em território verde e amarelo, a abundância de água em condições desejáveis tem ainda outro viés importante: o econômico. O equilíbrio da bacia é fundamental para manter a capacidade de geração da usina hidrelétrica de Itaipu, compartilhada por Brasil e Paraguai segundo os termos de um tratado que conferiu ao empreendimento o caráter de “binacional”.
A energia de Itaipu, no rio Paraná, garante a produção de nada menos que 65% do PIB brasileiro – como se sabe, ainda concentrado nas regiões Sudeste e Sul. Pouco mais de 20% de toda a energia que o Brasil consome vem da usina binacional e, no Paraguai, esse percentual atinge 95%.
Assim, preocupações ambientais e econômicas uniram os cinco países da área de influência da bacia no Centro de Saberes y Cuidados Socioambientales da Cuenca del Plata, estabelecido em novembro de 2006 por meio de um Acordo de Cooperação Técnica, Científica e Financeira entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Itaipu Binacional e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, na presença do representante legal do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC).
“O reservatório da usina precisa de água de qualidade. Se houver sedimentos e poluentes em geral, isso é nocivo para os equipamentos, sobretudo para os geradores”, disse a AmbienteBrasil Marcelo Alves de Souza, secretário Executivo do Centro de Saberes pelo lado brasileiro. “Esse cuidado pode aumentar a vida útil da usina em até 50 anos”, completa.
A idéia de unir forças além fronteiras começou a germinar nos Diálogos da Bacia do Prata, promovido por Itaipu e outras organizações naquele mesmo ano, 2006. Por fim, ficaram estabelecidas cinco diretrizes para o Centro: a água como tema integrador; a Bacia do Prata como território operacional; o pensamento ambiental como marco conceitual das ações; a educação ambiental como elemento capaz de mobilizar a sociedade; e a construção coletiva de conhecimentos, ações e organização.
Para cumpri-las, o Centro adotou uma estrutura de mandala. Formou os primeiro e segundo Círculos de Aprendizagem Permanente (CAPs I e II – este com 35 membros, sete por país), e pretende com isso, até o final de 2009, capacitar 4.500 educadores socioambientais, também com distribuição igualitária, numa progressão geométrica.
O Centro de Saberes prevê representação do terceiro setor para cada país membro em todos os CAPs – presentes nos dois Círculos já formados.
O processo de formação do CAP III, com 150 membros, teve início durante os Diálogos sobre Educação Socioambiental na Bacia do Prata, realizados de segunda a quarta-feira desta semana, na Universidade Nacional de Assunção, no Paraguai, onde também foram apresentadas as Práticas de Educação Socioambiental mapeadas pelos Círculos de Aprendizagem Permanente I e II - uma visão sobre as iniciativas já existentes nesse campo nos cinco países da Bacia.
A abertura do evento, na noite de segunda-feira, ficou a cargo do teólogo, escritor e conferencista brasileiro Leonardo Boff. “O Centro de Saberes é a resposta a uma demanda objetiva que a realidade estava pedindo”, disse ele a AmbienteBrasil. A solenidade contou com a presença do presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo.
À parte de seu objetivo prático, o evento transformou-se também em uma espécie de libelo pela identidade latino-americana, em contraponto à “hegemonia cultural e econômica” cujo maior expoente – freqüentemente citado nas palestras – foi o presidente norte-americano George W. Bush.
Operação
“Nenhuma empresa pública ou privada vai florescer sem responsabilidade socioambiental e sem o envolvimento da comunidade”, disse a AmbienteBrasil Nelton Friedrich, membro do Conselho Diretor e do CAP I do Centro de Saberes pela Itaipu Brasil.
“O Centro só tem sentido numa configuração com os valores dos pensamentos popular, ancestral e acadêmico”, afirmou, enaltecendo a proposta de dar autonomia às comunidades foco da ação, posta em prática pela Itaipu já no bojo do programa Cultivando Água Boa, implantado em 2003.
“Isso é inovador e revolucionário”, avalia Nelton, para quem o estabelecimento de parcerias deve ser condicionante para as iniciativas, de forma a aumentar sua capilaridade e compromisso.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 31/07/2008)