Um continente tomado por mosquitos e enfermidades, com zonas costeiras frágeis e cada vez menos peixes - assim será a América Latina se a mudança climática continuar afetando as populações de anfíbios e corais, duas classes de animais que mais dramaticamente sofrem com o aquecimento, segundo a ONG Conservação Internacional.
"Muitas espécies já foram afetadas por atividades humanas ou enfermidades, mas para essas a mudança climática foi a pá de cal", disse à Reuters Robin Moore, especialista em anfíbios da CI em Washington. No caso das rãs-arlequim, com 110 espécies conhecidas, pode-se dizer que só 10 têm populações estáveis atualmente, segundo o pesquisador.
A situação mais grave é a dos que vivem nos Andes. Com o aumento das temperaturas e degelos de glaciares, tiveram de subir as montanhas até altitudes de 5.000 metros, levando doenças, disse Moore. No atual ritmo, em três décadas 90 por cento desses sapos estariam extintos, acrescentou.
Como os anfíbios comem mosquitos, isso significa mais insetos e pragas afetando as colheitas, além de haver mais animais doentes ou mortos contaminando as águas que bebemos. "Basicamente todas essas coisas que nós odiamos", resumiu o cientista.
Corais
Os recifes de corais, principalmente no Caribe e na área tropical do Pacífico, têm sido afetados, por um lado, por sedimentos vindos do continente, e por outro pelo aquecimento das águas. Como servem de lar para animais marinhos, a redução dos recifes significa também uma diminuição dos estoques pesqueiros, além de deixar zonas costeiras mais expostas a marés e tempestades.
"Toda a costa será impactada", disse Sebastian Troeng, diretor de Estratégias Marinhas da CI. De acordo com ele, para começar a mitigar os efeitos do aquecimento seria preciso reduzir as emissões globais de gases do efeito estufa e, em âmbito local, melhorar os cuidados com o ambiente marinho, evitando o lançamento de sedimentos ao oceano.
Outra ONG, o WWF, chamou a atenção para os efeitos da mudança climática sobre outros tipos de animais, como as tartarugas marinhas - seis das sete espécies que habitam a América Latina e Caribe estão sob risco de extinção.
O aquecimento da água afeta o delicado equilíbrio entre o número de machos e fêmeas e seus hábitos migratórios e alimentares, já que dependem dos corais para encontrar comida, segundo o WWF. A mudança climática, de acordo com a ONG, torna ainda mais delicada a situação de espécies que já estavam gravemente ameaçadas, como a onça-pintada, o mico-leão-dourado e o cachorro selvagem das pradarias mexicanas.
(Estadão Online, AmbienteBrasil, 01/08/2008)