(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
gestão dos recursos hídricos crise da água reúso da água
2008-07-31
Apesar de ser um elemento fundamental para a perenidade de qualquer negócio, a questão da água não tem recebido historicamente a ênfase merecida na estratégia das empresas. As ferramentas de gestão e modelos econômicos tradicionais não consideram, por exemplo, o custo da degradação de fontes de água e ecossistemas essenciais para a manutenção dos recursos hídricos. Antecipando-se a um cenário de escassez iminente, algumas das mais importantes empresas brasileiras começam a repensar seus modelos de negócios e processos produtivos visando otimizar o uso da água.

De acordo com o consultor Maurício Waldman, geógrafo da USP, apesar de grave e preocupante, a questão da água tem sido negligenciada. “A escassez de recursos hídricos é uma discussão muito recente. Para se ter uma idéia, o relatório Meadows, divulgado pelo Clube de Roma na década de 60, não cita a água em termos de escassez. Ninguém supunha que essa questão teria o aspecto crítico verificado hoje. Só depois de 40 anos, a discussão do problema ganhou corpo. Ainda assim, persiste a falsa idéia de que água é um recurso inesgotável”, ressalta.

Segundo relatório “Water and sustainable development: A business perspective”, do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (do inglês, World Business Council for Sustainable Development - WBCSD), a gestão eficiente dos recursos hídricos em toda cadeia produtiva não deve ser encarada apenas como um aspecto da responsabilidade social corporativa, mas sim como prática dos negócios.

“Primeiramente, a gestão dos recursos hídricos requer a redução do desperdício de água, a implementação de tecnologias mais eficientes, a melhoria dos processos produtivos e tratamento da água utilizada. Em uma abordagem mais profunda, a gestão da água não pode deixar de considerar a preservação das fontes desse recurso e trabalhar com as comunidades para melhorar as práticas de seu uso”, ressalta o documento.

As ações para atingir as etapas acima descritas variam de acordo com o segmento em que a empresa atua. Mas já podem ser observadas em várias corporações.

Na Coca Cola Brasil - onde a água é um elemento vital não só no processo industrial, mas principalmente para o produto em si – reduzir o consumo, evitar o desperdício e promover a reutilização não foi o bastante. A empresa decidiu buscar fontes alternativas de captação, como a água da chuva.

Todas essas medidas integram o Programa Água Limpa, criado em 1995, com o objetivo de melhorar a gestão da água no Sistema Coca-Cola Brasil. “A água é a matéria prima mais importante no processo de fabricação de bebidas. Ela está presente em todos os nossos produtos, logo, o uso eficiente e racional desse recurso é uma prioridade para a Coca-Cola Brasil”, afirma José Mauro de Moraes, diretor de Meio Ambiente da Coca-Cola Brasil.

A empresa também desenvolve o Programa Água das Florestas Tropicais Brasileiras que tem como objetivo a recuperação, proteção e manutenção de mananciais de água através da recomposição florestal de áreas próximas a rios e lagos.

A primeira fase desse projeto conta com recursos da ordem de R$ 27 milhões destinados ao replantio de 3,3 milhões de árvores no período de cinco anos, na Serra do Japi, região de Jundiaí (SP) que será feito em parceria com a organização SOS Mata Atlântica.

Responsável pela iniciativa, o Instituto Coca Cola também fornece suporte técnico e financeiro para conscientização e o envolvimento dos habitantes das regiões atendidas pelo projeto que foi desenvolvido para ser elegível ao mercado de carbono, de acordo com a Convenção do Clima do Protocolo de Kyoto.

Fazer mais com menos
Mesmo nas empresas em que a água não é matéria-prima dos produtos, o recurso tem um papel importante nos processos industriais e, requer, portanto atenção especial.

Na Holcim, por exemplo, a principal finalidade da água é o resfriamento dos equipamentos. Segundo Valéria Pereira, gerente corporativa de meio ambiente da empresa, a água só entra no processo produtivo, propriamente dito, nos moinhos de cimento e também nas torres e fornos para resfriamento. “A água utilizada pela empresa é 100% recirculada. É uma forma de evitar o consumo e descarte, pois captamos a água e a consumimos novamente”, ressalta Valéria.

A Bosch, por sua vez, implementou um processo de tratamento de efluentes galvânicos na sua fábrica, em Campinas, que permite a reutilização de 60% do total da água utilizada. Anualmente, esse sistema possibilita o reaproveitamento de 240 milhões de litros de água/ano.

“Como a Bosch é uma empresa do segmento metalúrgico, a água é essencial nos processos produtivos. Utilizamos as fontes de obtenção pública de água tratada, recursos hídricos de superfície e subsolos. Há um tratamento específico para cada etapa da produção, sendo que os efluentes também são tratados e utilizados em outros processos”, afirma Theóphilo Arruda, gerente de Engenharia Civil, Preservação do Meio Ambiente e Segurança Empresarial Corporativa da Robert Bosch América Latina.

Conciliar a redução do consumo de água com o aumento da produção é um dos grandes desafios das empresas. Este é o caso da Unilever. Nos últimos cinco anos, a empresa diminuiu o consumo de água em 32% mesmo diante do crescimento de sua produção de 27%, no mesmo período. Na prática, essa redução foi de mais de 1.000.000 metros cúbicos / tonelada, o equivalente a mais de 400 piscinas olímpicas ao ano.

Pegada de água
O relatório “As empresas no mundo da água – cenários para 2025”, do WBCSD, prevê que, por volta de 2010, os países exigirão a divulgação pelas empresas das suas pegadas de água. Assim como a medida “pegada de carbono” serve para expressar as emissões de CO2, a “pegada de água” está relacionada à quantidade de água utilizada, direta ou indiretamente, para produção de um bem ou serviço.

Otimizar a relação de água necessária por unidade de produto ou serviço é um aspecto importante na gestão dos recursos hídricos. Essa é uma das metas perseguidas pela Coca Cola Brasil. Em 2007, o consumo médio das 37 plantas brasileiras foi de 2,10 litros de água/litro de bebida, um volume 5% menor que o de 2006, quando o consumo foi de 2,21 litros.

Com essa redução a Coca-Cola Brasil deixou de captar 960 milhões de litros de água, volume suficiente para abastecer 3.100 famílias de quatro pessoas, por um ano. Segundo Moraes, a meta é chegar, até 2012, a 1,7 litro de água consumido por um litro de bebida produzido.

“A grande meta da empresa é tornar-se ‘neutra’ no consumo de água, a partir de ações alinhadas com as diretrizes dos três Rs: reciclar a água utilizada por meio das ETEs – Estação de Tratamento de Efluentes; reduzir o consumo de água com o aumento da eficiência no consumo e buscando fontes alternativas, como a captação de chuva e repor a água consumida, por meio de ações compensatórias, como o programa Água das Florestas Tropicais Brasileiras”, afirma o diretor de Meio Ambiente da Coca-Cola Brasil.

A Ambev, por sua vez, alcançou a média de 1,71 litros de água para cada litro de refrigerante produzido em 2007. Em algumas unidades da empresa, o consumo de água é ainda menor. A filial de Jundiaí, por exemplo, reduziu de 1,78 para 1,63 litros a água usada na produção de cada litro de refrigerantes, tornando-se referência entre todas unidades da companhia. Em 2006, a filial de Contagem (MG) atingiu a média de 1,25 litros de água para cada litro de bebida fabricada.

O processo de fabricação de cerveja demanda mais água. Ainda assim, houve uma economia do consumo de 2006 para 2007. A companhia reduziu de 4,30 para 4,19 litros a água usada na produção de cada litro de cerveja. A economia gerada com a redução representa, em volume, a quantidade de água suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes por um mês.

Por meio de ações como instalação de medidores de água em cada etapa do processo produtivo e um sistema compacto e integrado de tratamento de efluentes sanitários para reutilização da água, a Amanco reduziu a um quarto o consumo de água em suas unidades produtivas no Brasil.

Parte significativa dessa economia também se deve à adoção do sistema de resfriamento dos tubos fabricados em circuito fechado. Em 2002, o consumo médio de todas as fábricas era de 1,07 metros cúbicos por tonelada de tubos produzida. Hoje, essa relação é de 0,23 metros cúbicos por tonelada produzida. “Saindo de sistemas abertos para fechados aumentamos muito a possibilidade de reutilização da água. O antigo sistema da torre de resfriamento era aberto e a água acabava evaporando. Já os sistemas fechados, com o uso de filtros específicos, conservam muito mais água, resultando em uma alta eficiência do recurso”, afirma Regina Zimmermman, gerente de qualidade da Amanco.

Na fábrica da Amanco localizada em Suape (PE), a forma como a fábrica foi projetada tem proporcionado o uso mais eficiente dos recursos naturais, entre eles a água. Nessa unidade, o processo de produção de uma tonelada consome apenas 40 litros de água, enquanto que pelo método tradicional seriam necessários 1.500 litros.

“A menor disponibilidade de água no futuro é um fato com o qual buscamos trabalhar. Tanto a sociedade, quanto às indústrias e governos, devem estar atentos a essa perspectiva. Muitas pessoas e diversas empresas percebem as novas tendências e se antecipam à busca de melhorias. Aqueles que não se anteciparem vão acabar ficando para trás, pois todo negócio pode ser comprometido com a falta desse recurso. Além de ser uma questão ambiental é também uma questão de competitividade”, ressalta Regina.

Ferramenta para gestão da água
Seguindo a máxima dos negócios, segundo a qual só é possível gerenciar aquilo que se pode mensurar, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council for Sustainable Development) desenvolveu uma ferramenta para ajudar as empresas a gerir melhor o uso da água.

Denominado Global Water Toll, o sistema permite que as empresas e organizações mapeiem o uso da água e os riscos relativos à sua disponibilidade nas suas operações globais e cadeias de valor. O download da ferramenta pode ser feito gratuitamente pelo site do WBCSD (http://www.wbcsd.org/web/watertool.htm).

(Revista Idéia Socioambiental, Envolverde, 31/07/2008)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -