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poluição na china política ambiental china
2008-07-31

Tudo está pronto para a festa. As fontes de fogos artificiais com peônias vermelhas e dragões amarelos estão preparadas para iluminar o céu no maior espetáculo esportivo já organizado na China. Mas, 10 dias antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, o país anfitrião ainda enfrenta acusações internacionais de não ter cumprido as promessas sobre direitos e meio ambiente que fez em 2001.

Ativistas afirmam que as amplas medidas de segurança adotadas para proteger as instalações e a realização dos Jogos têm, na realidade, o objetivo de sufocar os grupos que criticam o governo por seu desempenho na área dos direitos humanos e na luta contra a corrupção. Além disso, os esforços para limpar o meio ambiente na capital não atingiram os padrões esperados para uma cidade que é sede olímpica, e a contaminação em Pequim ainda supõe um perigo para os atletas, alertam. A Anistia Internacional acusou as autoridades chinesas de quebrarem suas promessas de melhorar a situação dos direitos humanos e, assim, trair os valores fundamentais dos Jogos Olímpicos.

Em um informe divulgado ontem, quando faltam 10 dias para o início das competições, a Anistia disse que a situação na China inclusive se deteriorou nos últimos anos. “Ao continuar perseguindo e castigando os que falam a favor dos direitos humanos, as autoridades chinesas perderam de vista as promessas que fizeram quando foi designada sede dos Jogos há sete anos”, afirmou em entrevista coletiva em Hong Kong a vice-diretora para Ásia-Pacífico da organização, Roseann Rife.

Quase simultaneamente, a organização ambiental Greenpeace lançou sua própria avaliação sobre o desempenho de Pequim com vistas aos Jogos, incluindo uma longa lista de oportunidades perdidas para que a cidade atendesse os temores sobre o impacto nos atletas da crescente contaminação. “Apesar de todos os esforços do governo, a qualidade do ar de Pequim hoje, provavelmente, ainda não é o que o mundo esperava para uma cidade sede dos Jogos Olímpicos”, disse em entrevista coletiva na capital chinesa o diretor da campanha para a China do Greenpeace, Lo Sze-ping.

A apresentação do informe do Greenpeace intitulado “A China em busca dos Jogos Olímpicos: lições de Pequim”, acontecia enquanto a capital permanecia envolta em um forte smog que faz os objetos serem vistos de forma horrorosa a apenas 10 metros de distância. Pequim lutou contra sua reputação de ser a “cidade cinza” dos Jogos. As autoridades adotaram severas medidas há uma semana para que os 3,3 milhões de automóveis façam rodízio de circulação de acordo com o final da placa. Todos os trabalhos de construção nas áreas centrais foram suspensas e mais de 150 obras com uso de terra e cimento em toda a cidade foram fechadas por dois meses.

A campanha de limpeza inclusive se estendeu à cidade costeira de Tianjin, onde serão disputadas partidas de futebol, e a Tangshan, importante localidade indústria a noroeste de Pequim. Cerca de 300 fábricas foram fechadas nas duas cidades, mas, depois das drásticas medidas para limpar o ar, a contaminação regressou favorecida pela umidade e pelo calor. No fim de semana o ar da capital chinesa era “insalubre para os grupos mais sensíveis”, segundo o Escritório de Proteção Ambiental de Pequim.

O índice de contaminação do a estava entre 103 e 124, isto é, acima dos 100, o padrão nacional de boa qualidade do ar. E os padrões ambientais chineses são menos exigentes do que os considerados “seguros” pela Organização Mundial da Saúde. “Apesar dos vários planos de longo e curto prazos de Pequim, a contaminação do ar continua sendo um dos mais duros desafios da cidade”, disse Lo Sze-ping, e acrescentou que isto é um exemplo do “fracassado modelo de crescimento” chinês. “Isto mostra que o modelo de crescimento da China de primeiro se desenvolver e depois limpar, está equivocado e deve ser descartado o mais rápido possível. É fácil contaminar, mas muito mais difícil é limpar o dano”, ressaltou.

Entretanto, as autoridades de Pequim defenderam seu desempenho, garantindo que todas as promessas foram cumpridas. O diretor do Escritório de Proteção Ambiental da capital chinesa, Du Shaozhong, disse a jornalistas no domingo que a qualidade do ar é atualmente 20% melhor do que no ano passado. “Se a paisagem da cidade parece turva, isso não significa que a qualidade do ar seja má”, afirmou. Os organizadores prometeram medidas ainda mais severas para garantir que Pequim cumpra sua promessa de ter “Jogos Olímpicos verdes”, e avaliam um plano que permitiria a circulação na cidade de apenas 10% dos veículos privados e o fechamento de mais fabricas no norte do país. “implementaremos um plano de emergência 48 horas antes se a qualidade do ar se deteriorar durante os Jogos entre 8 e 24 de agosto”, disse Li Xin, do Escritório de Proteção Ambiental de Pequim, segundo o jornal China Daily.

No campo dos direitos humanos, os organizadores estão longe de se adaptarem às demandas internacionais. Quando Pequim ganhou em 2001 o privilegio de organizar os Jogos, prometeu melhorar todas as condições sociais.

Argumentando ameaças de segurança, o governo adotou severas medidas contra uma ampla gama de pessoas que considera potenciais fontes de instabilidade durante as competições, como os separatistas tibetanos, os partidários do movimento espiritual Falun Gong e grupos que lutam contra o controle chinês da província muçulmana de Xinjiang, bem como camponeses e trabalhadores com demandas sociais.

O informe da Anistia diz que as autoridades chinesas estenderam o uso de detenções, incluindo a política de “reeducação através do trabalho” e de “reabilitação forçada das drogas”, para “limpar” Pequim antes do início dos Jogos e manter os ativistas sob controle. Funcionários encarregados da segurança durante os Jogos negaram que se tente sufocar as criticas, e garantiram que o país sofre graves ameaças devido ao amplo alcance e à audácia do terrorismo global atual. “Nos preocupa que Pequim não deixe um legado positivo com seus Jogos caso não tome medidas urgentes”, afirmou Rife, da Anistia Internacional.

(Por Antoaneta Bezlova, Envolverde, IPS, 30/07/2008)


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