As aves vêm migrando cada vez mais para o norte da Europa nos últimos 25 anos, prenunciando dramáticas mudanças na abrangência de plantas e animais por causa do aquecimento global, disseram cientistas nesta quarta-feira (30/07).
Um estudo com 42 espécies raras demonstrou que aves do sul do continente, como a felosa-do-mato (Sylvia undata), a escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus), a garça-branca-pequena (Egretta garzetta) e o rouxinol-bravo (Cettia cetti), se tornaram mais comuns na Grã-Bretanha no período de 1980-2004.
Já espécies normalmente encontradas no norte da Europa, como o tordo-zornal (Turdus pilaris), o tordo-ruivo (Turdus iliacus) e o mergulhão-de-pescoço-castanho (Podiceps auritus), se tornaram menos freqüentes na Grã-Bretanha.
"As espécies estão quase certamente reagindo à mudança climática", disse Brian Huntley, da Universidade Durham, num relatório escrito com seus colegas da Universidade Cambridge e da Real Sociedade para a Proteção das Aves, publicado na revista Biology Letters.
O estudo tentou descontar outros fatores que afetariam a contagem de aves raras, como o aumento do interesse da população, que levaria a mais relatos sobre a presença dos animais. Mudanças na agricultura, a poluição, a expansão urbana e as medidas de conservação também afetam a presença da vida selvagem.
Aves e borboletas se adaptam primeiro às mudanças climáticas, porque podem voar longas distâncias em busca de habitats mais frescos. Outras criaturas e plantas levam mais tempo para se deslocar.
"Depende da mobilidade das espécies. Aves e borboletas são dois dos grupos em que há mais pistas de que as espécies já estão mostrando reações à mudança climática", disse Huntley à Reuters. Os cientistas já suspeitavam que haveria essa mudança na abrangência das aves devido ao aquecimento global, atribuído por cientistas da ONU principalmente a causas humanas.
"Isso nos dá maior confiança nos modelos climáticos que usamos para outros grupos de espécies - borboletas, plantas, répteis e anfíbios", disse Huntley. "Raramente temos a oportunidade de testar esse tipo de modelo. Só podemos esperar cerca de 50 anos para ver se estávamos corretos. É melhor ter dados históricos como base de comparação", afirmou.
(Estadão Online, AmbienteBrasil, 31/07/2008)