O grande diferencial das bioindústrias de cosméticos e de fitoterápicos atuantes na Amazônia é estarem articuladas, em todas as etapas da cadeia produtiva, com as atividades de Pesquisas e Desenvolvimento (P&D) dos centros e instituições de pesquisa regional e de outras regiões do País. Essa é uma das conclusões do estudo de mestrado da geógrafa Laís Mourão Miguel, apresentada no final de 2007 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“Os diversos problemas ligados à logística, o custo elevado de materiais (como embalagens para os produtos lá produzidos), a deficiência de recursos humanos e a dificuldade das micro e pequenas empresas de competirem com as indústrias de maior porte são alguns dos problemas que detectamos”, aponta a geógrafa. A pesquisa foi orientada pelo professor Wanderley Messias da Costa, da FFLCH, e teve como objetivo traçar um panorama geral deste segmento, abordando as experiências atuais e as perspectivas para as bioindústrias do setor.
“Embora não totalmente consolidado, o setor apresenta um grande potencial para alavancar o desenvolvimento tanto da indústria como das comunidades locais. O que falta mesmo são políticas públicas que incentivem o fortalecimento desse segmento, em especial, os pequenos produtores e as micro e pequenas indústrias”, destaca Laís. De acordo com a pesquisadora, em 2007, os gastos do Governo Federal com investimentos em Ciência e Tecnologia (C&T) na Amazônia giraram em torno de 2% a 3% do total aplicado no País.
Ao todo, Laís pesquisou as 12 principais bioindústrias instaladas na região amazônica. Entre 2005 e 2007, a geógrafa realizou duas viagens para a região, onde permaneceu 10 dias em Manaus e 10 em Belém. “Pude constatar que as bioindústrias de cosméticos e fitoterápicos estão basicamente localizadas nessas duas Capitais e em seus entornos. Essas empresas conseguem integrar a produção rural-florestal com a industrial”, informa.
Segundo a geógrafa, o setor consegue utilizar a biodiversidade amazônica de maneira sustentável, ao contrário de outros segmentos que usam os recursos naturais de modo predatório. Os principais produtos utilizados são as frutas (açaí, camu-camu, cupuaçu e guaraná); os óleos vegetais (andiroba, babaçu, babosa, buriti, dendê, murumuru e patuá); os óleos essenciais (copaíba, pau-rosa, cipó-d´alho, sacaca); os corantes (abuta, açafrão e urucum) e as plantas medicinais (chicória, erva-de-jararaca, jaborandi, marupazinho, unha-de-gato).
Pesquisa e desenvolvimento
O Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), o Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) e os centros de incubação de empresas de base tecnológica são as instituições que desenvolvem diversos estudos sobre a biodiversidade regional, geração de tecnologias, bens e serviços biotecnológicos para o aproveitamento desses recursos.
De acordo com a pesquisadora, a cadeia produtiva envolve micros, pequenas, médias e grandes empresas com atividades que variam de acordo com o porte de cada uma. Em algumas etapas da cadeia, os centros e instituições de pesquisas atuam com estudos sobre o inventário taxonômico, pesquisas para a extração de substâncias e experimentos laboratoriais químicos e farmacológicos, por exemplo.
“A etapa inicial é realizada por famílias, comunidades, cooperativas ou em áreas de cultivo de empresas. São elas que fornecem as matérias-primas regionais para as bioindústrias realizarem o beneficiamento. Os pequenos empreendimentos produzem a mercadoria final ou insumos e comercializam esses produtos no mercado local e regional. Esses produtos têm uma boa aceitação no Norte do Brasil, mas ainda encontram algumas barreiras nas outras regiões do País, como no Sudeste, por exemplo. Já as indústrias de médio e grande porte produzem insumos e também produtos finais que são vendidos em sua maioria no estado de São Paulo e também no exterior”, explica a geógrafa.
Futuro
Entre as perspectivas para o setor, Laís aponta o projeto para implantação de um Pólo de Bioindústrias na Zona Franca em Manaus. “Como a Zona Franca oferece vários subsídios, é possível que alguns problemas sejam solucionados. No caso das embalagens, por exemplo, elas são importadas de outros estados brasileiros e acabam encarecendo o valor do produto final. Um Pólo abrirá possibilidades para que esses e outros itens sejam produzidos lá mesmo, o que pode reduzir o valor final dos produtos”, pondera a geógrafa.
“Além disso, em dezembro de 2007, os Ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e o da Ciência e Tecnologia (MCT) abriram uma portaria interministerial que estabelece alguns incentivos para dinamizar os empreendimentos nesse segmento”, finaliza.
Mais informações: e-mail laismourao@usp.br
(Por Valéria Dias, Agência USP, 30/07/2008)