As monoculturas de eucalipto, pinus e cana-de-açúcar agravarão a falta de água no Espírito Santo. Atualmente, o Estado apresenta 73% de sua área com balanço hídrico negativo, 8% com déficit hídrico anual superior a 400 (milímetros) mm e 60% entre 200 mm a 400 mm, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
A falta de água vai aumentar no Espírito Santo, pois o governo estadual incentiva os plantios das monoculturas. O Estado já tem, pelo menos, um terço 200 mil hectares plantados com eucalipto só de uma empresa, a transnacional Aracruz Celulose. No total, são cerca de 300 mil hectares com eucaliptais no Espírito Santo.
Além de degradar a terra, o eucalipto é voraz consumidor de água, agravando o problema em todo o Estado, principalmente no norte e noroeste.
Agora, a cana é outra monocultura que degrada a terra cujo plantio vem sendo incentivado. Atualmente são cerca de 60 mil hectares, e estão programados novos plantios que totalizaram 180 mil hectares de cana-de-açúcar no Espírito Santo. As áreas do eucalipto e da cana não entram nos 600 mil hectares de terras degradadas da conta oficial.
No Espírito Santo restam somente 7% da área original da mata atlântica preservada. O governo não cumpre ainda a legislação que exige a manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPs), que são os topos de morros, encostas, nascentes e alagados, o que agrava o déficit hídrico.
Os plantios de eucalipto em Minas Gerais agravarão o déficit hídrico no Espírito Santo, pois vai secar o que ainda existe de água no Rio Doce.
As informações sobre o déficit hídrico no Estado foram publicadas pelo Incaper no Diário Oficial do Espírito Santo. Segundo a publicação oficial, o Incaper “acaba de identificar as áreas com concentração de irrigação no Espírito Santo. A pesquisa foi concluída depois de um levantamento realizado pelos técnicos do órgão, com base na experiência diagnosticada em cada município”.
Explica que “o estudo teve como objetivos verificar os locais com maior possibilidade de haver conflitos pela água devido ao uso para irrigação. Com isso, será possível direcionar as ações do Incaper, de conservação e preservação, nas áreas de maior concentração, além de servir como suporte para o processo de autorização do uso da água (outorga), que deverá ser priorizada nas áreas de maior risco de conflito”.
Segundo a publicação, do presidente do Incaper, Gilmar Dadalto, o balanço hídrico negativo de 73% no Espírito Santo “evidencia a limitação de alternativas agrícolas dessas áreas nas condições naturais”. Defende o amplo uso de irrigação.
O Incaper aponta que a área total com lavoura no Espírito Santo “é de 800 mil hectares, divididos entre 100 mil produtores. Dessa área, 190 mil hectares são irrigados, com 30 mil irrigantes, o que representa uma média de 6,3 ha/irrigante”.
E que “a Região Nordeste do Estado é a que reúne a maior área irrigada, respondendo por 114 mil hectares, com 12,5 mil irrigantes. A média registrada é de 9,1 hectares/irrigante”.
Os sete municípios com as maiores concentrações de áreas irrigadas são Pinheiros, Jaguaré, Linhares, São Mateus, Sooretama, Nova Venécia e Boa Esperança. “Em alguns casos, como Boa Esperança e Pinheiros, as áreas irrigadas estão bem distribuídas pelo município, o que diminui a probabilidade de conflito. Em outros, como em Nova Venécia, São Mateus e Sooretama, há concentração em determinadas áreas”.
O Incpaer informa ainda que “a Região Serrana-Sul apresenta a menor área irrigada, com 2,9 mil hectares e 1,1 mil irrigantes. A média atinge 2,6 hectares/irrigante. Mesmo assim, existem áreas em que é possível verificar concentração de irrigantes”.
O Incaper mantém o Sistema de Informações Agrometeorológicas (SIAG), que “é um sistema de monitoramento e estudos climáticos e de difusão de tecnologia”.
No Espírito Santo está sendo realizado o XVIII Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem (Conird), em São Mateus, norte capixaba. O evento vai até o dia 1 de agosto.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 29/07/2008)