A Amazônia perdeu o equivalente a um campo de futebol e meio por minuto em junho por conta do desmatamento, totalizando 612 quilômetros quadrados no mês, informou na segunda-feira o Imazon, instituto de pesquisa não-governamental dedicado a estudar a floresta.
O desmate do mês de junho foi 23 por cento maior do que o registrado no mesmo período de 2007, de acordo com o Imazon. Em junho do ano passado, a floresta perdeu 499 quilômetros quadrados, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.
"Os dados mostram um desmatamento concentrado em regiões onde houve a expansão de novas fronteiras agrícolas", afirmou o pesquisador Adalberto Veríssimo, coordenador do Projeto Transparência Florestal do instituto.
O Pará foi o recordista de destruição da floresta em junho último, respondendo por 63 por cento da área perdida. Em seguida vieram Mato Grosso (12 por cento), Roraima (11 por cento) e Amazonas (10 por cento). Os demais Estados da chamada Amazônia Legal contribuíram com cerca de 4 por cento para o desmate total.
Segundo Veríssimo, o desmatamento no Pará é mais facilmente percebido em três áreas distintas: às margens da rodovia BR-163 para uso da pecuária extensiva; à beira da rodovia Transamazônica, por assentamentos e propriedades de pequeno e médio portes, voltadas sobretudo à pecuária; e na região de Marabá.
"Em Marabá, as árvores são arrancadas para a produção de carvão para alimentar a indústria de ferro gusa", afirmou.
Os dados do SAD também mostraram que a Amazônia perdeu 4.754 quilômetros quadrados de floresta entre agosto do ano passado e junho deste ano, elevação de 9 por cento na comparação com o acumulado entre agosto de 2006 e junho de 2007.
"Podemos constatar que o desmatamento está crescendo, mas não a níveis estratosféricos", afirmou Veríssimo.
ILEGAL Ainda de acordo com os dados do Imazon, a maior parte do desmatamento registrado em junho ocorreu em áreas privadas, sob diversos estágios de posse ou devolutas: 68 por cento. Depois vieram o desmatamento em assentamentos da reforma agrária e em unidades de conservação, com 18 e 10 por cento respectivamente. A destruição de florestas em áreas indígenas respondeu por 3 por cento do desmate em junho.
Segundo Veríssimo, apesar de haver nos dados reflexos da alta dos preços das commodities, sobretudo da cana-de-açúcar, o governo tem encontrado mais dificuldade em controlar o desmatamento especulativo, muitas vezes promovido "por pessoas que operam na ilegalidade".
"A maneira mais eficiente de tomar conta da terra é desmatar, ainda que não se produza nada ali. Isso sinaliza que aquele pedaço de terra tem dono", explicou. "Muitas vezes, as pessoas desmatam essas terras na expectativa de vendê-las depois."
INPE Os números sobre desmatamento da Amazônia considerados oficiais pelo governo federal, apurados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, serão divulgados na terça-feira e devem ser comentados no mesmo dia pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Os dados do Inpe, que usa como parâmetro o sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), costumam ser diferentes dos apurados pelo SAD, do Imazon. Isso ocorre, segundo Veríssimo, porque o Imazon computa em seus dados apenas o corte raso, em que toda a área é desmatada. Já o Inpe considera desmatamento a soma do corte raso com o das áreas degradadas, em que ainda há floresta, apesar dos danos.
Por exemplo, enquanto o Inpe apontou desmatamento de 1.096 quilômetros quadrados em maio e liderança do Mato Grosso entre os Estados que mais desmataram, o Imazon registrou desmatamento bem menor, 298 quilômetros quadrados, e o Pará como maior vilão da destruição florestal.
(Por Eduardo Simões e Fabio Murakawa, Reuters,
O Estado de S. Paulo, 28/07/2008)