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corais impactos mudança climática política ambiental do méxico
2008-07-29

"As praias de Cancun não teriam areias brancas não fosse pelos arrecifes de coral", disse ao Terramérica o professor Roberto Iglesias-Prieto, ecofisiologista marinho do Instituto de Ciências do Mar e Liminologia da Universidade Nacional Autônoma do México. O turismo é a terceira fonte de divisas do México, que deveria investir muito mais na proteção de seus valiosos sistemas de corais, afirma este especialista. Mas, para explicar estes problemas, "não basta ser ecologista. A pessoa tem de ser economista e especialista em política", acrescenta.

O Arrecife Mesoamericano, em águas da Península de Yucatán, compartilhado por México, Belize, Guatemala e Honduras, é o maior do Oceano Atlântico e, com extensão de 1.100 quilômetros, é o segundo maior do mundo depois da Grande Barreira de Coral no leste da Austrália. Os corais são cruciais para a saúde dos oceanos e abrigam entre 25% e 33% das criaturas marinhas. O sustento de quase um bilhão de pessoas depende direta ou indiretamente dos arrecifes coralinos. Entretanto, estão morrendo por contaminação, pesca excessiva e pela mudança climática, que esquenta e acidifica os oceanos.

Poucos arrecifes de coral se manterão saudáveis depois de 2050 se não houver reduções significativas das emissões de combustíveis fósseis, afirmam os cientistas. O Terramérica conversou com Iglesias-Prieto por ocasião do 11º Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, realizado entre 7 e 11 deste mês em Fort Lauderdale, no Estado norte-americano da Flórida.

Os arrecifes coralinos estão bem protegidos no México?
Há várias áreas protegidas, mas na maioria delas são permitidos múltiplos usos, como recreação e pesca. Lamentavelmente, não há compromisso real nem investimentos do governo federal em proteção e manejo dos corais. Arrecifes como o Mesoamericano proporcionam serviços que valem milhares de milhões de dólares, como atração turística, proteção diante de furacões e barreira contra a erosão costeira. A costa de Cancun (sudoeste do país) é incrivelmente valiosa. A maioria dos turistas vai às praias, não às florestas, embora estas sejam o centro das políticas de conservação do país.

Como o senhor tenta mudar esta situação?
Apresento-me aos governos federal e estadual e tento convencê-los a investir em proteção e manejo. Os únicos recursos disponíveis agora procedem de um pequeno imposto cobrado dos turistas. Os governos não consideram prioritário conservar os arrecifes de coral. Busco uma mudança mostrando os benefícios econômicos que proporcionam. Não basta ser ecologista. É preciso ser economista e especialista em política.

O senhor estudou como os corais usam a luz solar. Pode explicar isto?
Os corais são fantásticos captadores de luz. São muito mais eficientes em aproveitar a energia do sol do que as usinas terrestres. Coletam a luz e a propagam internamente para fornecê-la aos seus simbiontes, às algas. Estas são as que lhes dão suas incríveis cores e transformam a luz em nutrientes dos quais vivem os sistemas coralinos.

Nos últimos anos, os corais da região caribenha morreram ou esbranquiçaram. Por que?
Os corais se tornam brancos pela perda de seus simbiontes, as algas, e morrem sem elas. São muito sensíveis às alterações ambientais. A mudança climática está aquecendo a superfície dos oceanos. Basta elevar a temperatura da água que cerca os corais em apenas 1,5 grau acima da média de verão para causar esse dano.

O que quer dizer quando afirma que os corais são como "os canários na mina de carvão"?
Colocar canários nas minas de carvão permitia provar se havia vazamento de gases perigosos. Os corais são nossa prova do impacto da mudança climática. Se não agirmos e os perdermos, já estaremos lutando para sobreviver. Temos de continuar insistindo para que esta mensagem chegue às pessoas.

O México não quer expandir sua produção de petróleo, o mesmo combustível fóssil que está matando os corais?
Somos um país em desenvolvimento, queremos queimar mais petróleo e exportá-lo, obter recursos para nos desenvolvermos e vivermos felizes. E também temos o pesadelo de que essas emissões, em poucas décadas, nos levarão à perda dos "belos monstros", os corais, e das incríveis criaturas que vivem neles.

Com as coisas como estão, como o senhor vê o futuro?
Presenciei a destruição de ecossistemas coralinos inteiros, e o futuro não parece brilhante. Quando falo aos estudantes, sinto que estou contando uma história de horror. Falo que eles precisam lutar. Eles podem mudar este cenário reduzindo sua pegada ecológica e exigindo políticas verdes dos governantes.

Se tivesse de criar uma manchete para um jornal, com definiria o perigo da mudança climática?
Os corais estão com problemas, mas podem ganhar tempo com um bom manejo e proteção, enquanto descobrimos como reduzir a mudança climática.

(Por Stephen Leahy*, Envolverde, Terramérica, 29/07/2008)


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