Governo, políticos e empresários fazem questão de dizer que não há preferência. Rio Grande ou Tramandaí? Se a Petrobras escolher um desses municípios para implantar o terceiro terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) no País, o Estado ganha. O investimento poderá chegar a US$ 500 milhões, dependendo da extensão do gasoduto. A companhia promete definir até novembro sua escolha, que não tem apenas as duas cidades gaúchas no páreo. Mas a área técnica do governo estadual, que subsidiou a estatal, não esconde a preferência pela região portuária do Sul do Estado. Contudo, Santa Catarina também está no páreo.
Os maiores interessados na disputa - os prefeitos das duas candidatas - desfilam vantagens comparativas. Rio Grande, que comportaria um terminal fixo, já possui um porto de grandes dimensões e vive um boom de desenvolvimento alicerçado na indústria naval, em novas estruturas de logística e na possibilidade de receber uma unidade de celulose da Votorantim (VCP). O prefeito Janir Branco destaca que logística é um diferencial importante e que a área de expansão do porto não pode ser ignorada. A proximidade com Uruguai e Argentina seria, lembra Branco, o passaporte para o mercado consumidor. Contudo, há uma desvantagem: a extensão de 300 quilômetros do gasoduto que ligaria Rio Grande à Região Metropolitana, que tem custo estimado em US$ 350 milhões.
Para o prefeito de Tramandaí, Edegar Munari Rapach, o seu maior trunfo é a relação já existente com a Transpetro, que responde por 20% da receita municipal. "Temos uma estrutura montada aqui, que facilitaria a instalação da planta e do gasoduto", aposta Rapach. "Estamos na torcida". A cidade pode também contabilizar outro ponto positivo: a Petrobras manifestou interesse em instalar um terminal móvel (no mar), que daria maior flexibilidade. O adversário poderia ser o ambiente, devido a correntes marinhas ou mesmo instabilidades climáticas.
Longe do debate sobre as duas cidades, o processo de avaliação da Petrobras ocorre à distância. Os representantes de cada cidade não foram convidados para o encontro sobre o tema, ocorrido dia 15 passado, com a diretora de gás e energia da estatal, Maria das Graças Foster, na sede da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). O deputado estadual Sandro Boka, que preside a comissão externa criada pela Assembléia Legislativa para acompanhar as tratativas, tenta ficar isento, mas não consegue. Com reduto eleitoral em Rio Grande, Boka adianta que pretende chamar entidades e órgãos do governo para acrescentar itens que fortalecem virtudes da cidade portuária ao estudo técnico já entregue à estatal. "Hoje o Sul está alijado do gás", cita o deputado.
O coordenador da área técnica da Secretaria de Infra-estrutura e Logística (Seinfra), Edmundo Fernandes da Silva, admite que o potencial que se abrirá com a localização em Rio Grande interessa ao Estado. Se depender de área para instalar o terminal fixo, o endereço está garantido. Silva diz que o Estado reservou uma área no superporto, que já teria licença ambiental. "Só falta a decisão da Petrobras", indica o coordenador da Seinfra. A ampliação do calado do porto, que aguarda obras para atingir 50 pés, e uma maior segurança na operação de um terminal fixo pela Petrobras são elencados como vantagens mais robustas da opção pelo Sul.
(Por Patrícia Comunello, Jornal do Comércio, 29/07/2008)