A arquiteta Maria Lúcia Sampaio abriu as janelas de seu apartamento no dia 7 de julho e deparou com a derrubada dos 11 cinamomos remanescentes do bosque Rio Branco – área verde que dá nome ao empreendimento habitacional construído no local em 2003. A preservação das árvores havia sido considerada obrigatória para a provação do projeto.
Uma análise da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM) autorizou a remoção diante do argumento de que os cinamomos estavam “secos e irrecuperáveis”. Como compensação, o condomínio terá que doar 20 mudas de ipê roxo Smam. “A justificativa para a doação é que a o jardim do condomínio não tem espaço adequado para um novo plantio. Mas ali havia u bosque!”, denuncia Maria Lúcia.
O empreendimento causou polêmica desde o princípio. Foram derrubadas 372 árvores para dar lugar aos dois prédios de 16 pavimentos que hoje dominam a vista e o sol da rua. Diante dos protestos dos moradores antigos, ficou acertado que a Rossi Incorporação e Construção paltaria mudas na região, e reformaria uma praça no bairro Santana. A empresa também se comprometeu a preservar alguns pontos de vegetação do antigo bosque dentro da área do condomínio, entre eles um agrupamento de 11 cinamomos na beira da Álvaro Alvim. A responsabilidade sobre as árvores, consideradas áreas de preservação ambiental, ficou com o condomínio sobre a fiscalização da Secretária Municipal do Meio Ambiente (Smam).
“O condomínio não zelou pelas árvores, que foram tomadas por erva de passarinho e a Smam não fiscalizou como deveria para evitar que as árvores fossem mal cuidadas”, denuncia a vizinha. Maria Lúcia vai entrar com uma representação no Ministério Público contra o empreendimento e responsabilizando a Smam. “Deveriam ter multado o condomínio e não o presenteado com a solicitação atendida pela secretaria responsável pela manutenção das árvores”.
Ela garante que conhece relatos semelhantes de moradores de outras áreas da cidade – “Alguém está fazendo o cidadão de Porto Alegre de Bobo”.
Smam teve que parar o trabalho
A arquiteta Maria Lúcia Sampaio, moradora da rua há mais de 15 anos, levou um susto quando viu os caminhões arrancando os cinamomos. Perguntou aos funcionários a razão da derrubada. Eles disseram que as árvores estavam causando risco aos moradores dos prédios pois poderiam desabar.
“Aquelas árvores estavam em perfeitas condições. É natural que elas fiquem sem folhas durante o inverno”, observa.
Inconformada, a moradora ligou para o gabinete do vereador Beto Moesch (PP), que na época da construção, era o titular da Smam. “Em reunião com a comunidade da rua Álvaro Alvim, ele havia se comprometido com a manutenção dos cinamomos”, recorda.
Diante da intervenção, de Moesch, uma bióloga da Smam fez uma vistoria que determinou a paralisação do corte – restavam apenas duas árvores em pé.
Mas no dia 8 de julho, outra equipe da secretaria voltou ao local e determinou que a remoção continuasse. “Da janela do meu quarto eu via uma pequena e linda mancha verde, cheia de pássaros que não existe mais”, lamenta.
(Por Paula Bianca Bianchi, Jornal Já, 28/07/2008)