Ave do cerrado é salva por morador do Bairro Icaivera, em Contagem. Mistura fez 33 vítimas em dois meses na capital
A mistura criminosa de cola de madeira com vidro moído para cortar linhas de pipas fez mais uma vítima nesse fim de semana. Em vez de motoqueiros ou pedestres, uma coruja da espécie Caburé, típica do cerrado mineiro, teve a asa machucada por causa da irresponsabilidade dos adeptos da prática. O animal, com envergadura de asa de um metro, de ponta a ponta, foi socorrido por um morador de Contagem, na Grande BH, e levado para uma clínica veterinária. A diversão perigosa foi responsável por causar ferimento em pelo menos 33 pessoas entre os meses de junho e julho no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS).
O veterinário Fernando Pinto Pinheiro conta que a ave apareceu na tarde de sábado, no quintal de um morador do Bairro Icaivera. “Ele percebeu que o animal não conseguia voar e tinha uma linha com cerol embolada na asa, por isso, chamou a Polícia Militar do Meio Ambiente. Fomos chamados para verificar quais foram os danos, e o animal foi levado para nossa clínica, parceira da polícia. Constatamos uma lesão na asa direita e foi aplicado medicamento”, explica Pinheiro.
Ele observa que em situações como essa é necessário soltar a ave o mais rápido possível, já que é comum o animal morrer de estresse. “Ela apareceu nas proximidades da barragem Várzea das Flores, onde provavelmente era seu hábitat. Infelizmente, percebemos migração constante de animais da fauna silvestre para o meio urbano em busca de alimento”, diz. O especialista explica ainda que é muito raro encontrar exemplares dessa coruja. “A Caburé está em fase de pré-extinção. Devemos levá-la amanhã (segunda) para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e, provavelmente, será solta.
Perigo
No ano passado, dos 45 pacientes atendidos no HPS, maior pronto-socorro do estado, 41 deles se machucaram nos meses de junho e julho. Isso significa que 91% das vítimas foram atingidas pelas pipas com cerol nessa época do ano. Em 2006, foram 27 feridos, nesses dois meses, sendo 34 durante todo o ano, além de dois óbitos. As principais vítimas do cerol são ciclistas e motoqueiros, mas o perigo também pode atingir pedestres. Quando a linha recebe a cola com o vidro moído se transforma em uma grande navalha, ao atingir o corpo de um motociclista que passa em velocidade. Se o corte atingir uma veia importante do pescoço, o acidente é fatal. Quando chegam ao HPS, o tratamento é cirúrgico, para estancar a hemorragia, que às vezes também atinge a traquéia e vias aéreas.
(Por Ingrid Furtado, Estado de Minas, UAI, 28/07/2008)