Enquanto não existe uma profilaxia disponível contra a dengue - pesquisadores estimam a criação de uma vacina em quatro ou cinco anos - cientistas brasileiros tentam encontrar um medicamento antiviral que sirva para combater os sintomas da doença.
O professor Benedito Fonseca, da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto (SP), realizou testes preliminares com uma substância usada no tratamento de malária que pode interferir na replicação do vírus da dengue. O estudo foi apresentado na semana passada, durante o I Encontro da Rede Pan-Americana de Pesquisa em Dengue, em Recife.
A substância testada é a cloroquina, amplamente utilizada no combate à artrite reumatóide e no tratamento de malária até a década de 1980, quando o Plasmodium falciparum se tornou resistente à sua ação.
Fonseca mostrou, em laboratório, que o uso da cloroquina diminui a quantidade de vírus produzido pela célula infectada. Com a experiência in vitro, partiu para as análises em pacientes.
O estudo teve a participação de 129 pacientes com suspeita de dengue. Desse total, 63 foram tratados com a droga e 32 doentes tiveram o diagnóstico confirmado para dengue. Dos 32 casos diagnosticados, 19 tomaram cloroquina e 13 receberam placebo.
"Percebi que não houve alteração quanto ao tempo de duração da doença e ao controle da febre. Porém, das 19 pessoas com dengue que tomaram a droga, 12 apresentaram melhora no estado geral. Eles disseram que não sentiam dores no corpo, nem fadiga. A pílula aliviou os sintomas, os pacientes conseguiam trabalhar e fazer tarefas domésticas", relatou.
Entretanto, como não foi possível colher diariamente amostras de sangue dos pacientes, o médico não conseguiu verificar, fora do laboratório, se a cloroquina de fato reduziu a quantidade de vírus circulante no corpo.
"Seria necessário mais dinheiro e mais gente para trabalhar, é um processo difícil. Nem sempre o paciente se dispõe a ir ao laboratório para a coleta de sangue. O ideal seria fazer a coleta na casa deles", diz.
A proposta do pesquisador é ampliar os estudos no próximo ano e testar um novo esquema no uso da droga. Na pesquisa, feita este ano, Fonseca tratou os pacientes com 500 miligramas de cloroquina, de 12 em 12 horas, numa dosagem similar ao tratamento contra malária. Foram duas cápsulas por dia, durante três dias.
"Talvez, seja necessário aumentar o tempo de tratamento. Também deve ser feito ajuste na dosagem", ponderou. A expectativa do professor, para 2009, é ampliar o número de pacientes no grupo de estudo. Se possível, com gente de outras cidades brasileiras, além de Ribeirão Preto.
"Com 200 pessoas, a resposta estatística é muito boa. Enquanto não há vacina, é importante reduzir os sintomas da doença", avalia. A cloroquina, de acordo com Fonseca, é uma substância de base fraca que tem a capacidade de aumentar o Ph dentro das vesículas onde se encontram o vírus.
"Dessa forma, a droga inibe a alteração que a proteína sofre e impede que o RNA do vírus seja liberado para dentro da célula e comece a replicar", explica.
(Por Cleide Alves, Agência Fapesp, 28/07/2008)