O debate de energia nos Estados Unidos introduz mais um argumento poderoso em apoio à política americana em relação Cuba: proteção ambiental. Há anos os irmãos Castro vêm cortejando empresas de petróleo estrangeiras. Nenhuma foi tão assiduamente cortejada recentemente do que a Sinopec, da China. Por que a Sinopec?
A resposta é simples: se os chineses começassem a perfurar no golfo do México, na costa de Cuba -tão perto da costa da Flórida- isso enviaria um "alerta vermelho" pelos corredores do Congresso americano, criando uma nova coalizão, de outra forma improvável, em favor da suspensão unilateral do atual embargo.
Defensores da suspensão das sanções comerciais contra Cuba iriam se unir a conservadores republicanos que, apesar de apoiarem o embargo comercial, defendem fortemente que empresas americanas tenham permissão para perfurar em águas profundas. Além disso, ambientalistas liberais preferem que empresas americanas estritamente reguladas façam as perfurações do que empresas chinesas que não seguem regulamentos. Em Cuba, isso parece uma estratégia vencedora para mudar a política americana.
Em 2006, o novo escritório da Reuters em Cuba já informava: "Havana está ansiosa para ver empresas americanas unindo forças com o lobby contra o embargo liderado pelos produtores americanos que vêm vendendo comida para Cuba há anos."
Nas últimas semanas, essa estratégia tomou o centro das atenções em Washington, com líderes de opinião pública e políticos abertamente discutindo a ironia de "chineses perfurando a 100 quilômetros da costa da Flórida", enquanto a lei americana impede que as empresas americanas façam o mesmo ao longo do continente.
Essa premissa, entretanto, simplesmente não é verdadeira. As empresas chinesas não estão perfurando nas águas profundas de Cuba. Tampouco os chineses têm acordos com a empresa estatal de petróleo de Cuba, Cupet, para isso. De fato, a última prospecção de petróleo na costa de Cuba ocorreu em 2004 e foi liderada por um consórcio espanhol-argentino, Repsol YPF. O consórcio encontrou petróleo, mas não em quantidade comercialmente viável. A inatividade desde então sugere que a Repsol YPF não está disposta em continuar com os investimentos exigidos pela Cupet de Castro.
Por quase uma década, o regime de Castro vem buscando contratos de exploração de águas profundas. Ele tentou a StatoilHydro norueguesa, a Oil & Gas Corporation indiana, a Petronas da Malásia e a Sherritt International, do Canadá. Ainda assim não há atividade atualmente nas costas de Cuba. O governo cubano anunciou planos de perfuração, que foram seguidos de adiamentos em 2006, 2007 e neste ano.
Claramente, as empresas de petróleo estrangeiras antecipam mudanças políticas em Cuba e estão tentando se posicionar de acordo. Está igualmente claro que encontram obstáculos legais e logísticos que impedem a exploração e o desenvolvimento do petróleo e do gás. Entre os impedimentos estão as dificuldades de como transformar qualquer descoberta em produto. Cuba tem uma capacidade de refinamento muito limitada, e o embargo americano impede o envio de petróleo cru cubano para refinarias americanas. Tampouco é financeira ou logisticamente viável para os sócios do atual regime cubano fazer a exploração em águas profundas sem acesso à tecnologia americana, a qual o embargo proíbe de transferir a Cuba. As proibições existem por boa razão. Fidel Castro expropriou bens de empresas americanas de petróleo depois de assumir o controle de Cuba sem nunca fornecer compensação.
Igualmente importante, as empresas estrangeiras que estão tentando fazer negócios com Cuba ainda enfrentam muitos gastos e riscos políticos. Se o regime cubano decidir novamente expropriar os bens dessas empresas, não haverá recurso legal em Cuba.
Francamente, é assustador, como alguns parecem acreditar, que a sociedade de empresas americanas com uma ditadura anti-americana para explorar e desenvolver campos de petróleo de alguma forma reduziria os custos do combustível para os consumidores americanos e contribuiria para a independência energética dos EUA. Basta olhar para a reação dos mercados de petróleo internacional quando Hugo Chávez da Venezuela estatizou os bens da ConocoPhillips e da Chevron.
Que mensagem os EUA estariam enviando aos regimes tirânicos e ricos em petróleo em torno do mundo sobre as conseqüências da expropriação se agora fôssemos suspender o embargo que foi imposto a Fidel Castro depois de ter expropriado os bens da Esso, Shell e Texaco? Por muitos anos, o embargo americano serviu para proteger os interesses de segurança nacional dos EUA; hoje também está servindo para impedir o regime de Cuba de perfurar perto da costa americana. Isso é bom para o meio ambiente.
(Por Mauricio Claver-Carone*, International Herald Tribune, UOL, 26/07/2008)
*Mauricio Claver-Carone é diretor do US-Cuba Democracy PAC em Washington e foi advogado do tesouro americano