O plantio de espécies exóticas como pinus e eucalipto pode conviver pacificamente com a preservação da mata nativa. É o que a Klabin quer demonstrar com seu programa Matas Legais, uma parceria com a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) que nos últimos três anos tem dado bons resultados em Santa Catarina e que agora chega ao Paraná, nos municípios de Curiúva, Sapopema e São Gerônimo da Serra, na região central do estado.
A iniciativa é voltada aos fomentados, que são proprietários rurais incentivados a plantar pinus e eucalipto em áreas ociosas e marginais de suas terras, como forma de complementar a renda com a venda de madeira para a Klabin. O plantio de eucalipto rende safras a cada seis ou sete anos, dependendo do solo. Já o pinus tem ciclos diferenciados: 13 ou 14 anos se for um corte só, ou de 20 anos, com cortes aos 8 e 14 anos, para tirar madeira para celulose ou laminadoras. O objetivo do Matas Legais é fazer com que as propriedades dedicadas a esse cultivo produzam respeitando a legislação ambiental.
Um dos principais focos está na recomposição das matas ciliares, que precisam ter pelo menos 50 metros de largura no entorno das nascentes e 30 metros de largura ao longo dos cursos dos rios. Lírio Leite, 47 anos, de Agrolândia (SC), é um dos produtores que aderiu ao projeto. Está fazendo a recuperação da mata ciliar nas três propriedades que recebeu como herança da família. “Nasci no campo. Meus pais já utilizam a terra sem limites. Desmatavam até a beira do rio para fazer pastagem e lavoura. Hoje, isso mudou”, afirma o agricultor, que cultiva arroz e dedica parte do terreno para o eucalipto, de olho na aposentadoria.
Além das mudas doadas pela Klabin, o agricultor recebeu assistência técnica da Apremavi, que elaborou o projeto de reflorestamento e paisagismo. “A mata é legal não só porque está na lei. É 'legal' entrar numa mata bem conservada e protegida”, completa Leite, que é um dos 238 integrantes do Matas Legais em Santa Catarina. Juntos, eles receberam da Klabin 258 mil mudas de plantas nativas o que permitiu a recomposição de 80 hectares de matas entre 2005 e 2007. Vale destacar que, no primeiro ano, apenas 11 famílias faziam parte da empreitada.
Ilhas de vegetação
O programa de fomento da Klabin já existe há 20 anos e hoje reúne 14 mil proprietários rurais do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. “A idéia é que a partir de agora todos os proprietários que entrarem no fomento também façam a adesão ao Matas Legais e que, aos poucos, possamos trazer também os fomentados mais antigos”, explica Ivone Sier, coordenadora de pesquisa florestal da Klabin no Paraná.
Segundo ela, hoje, grande parte dos proprietários rurais não conhecem a legislação que diz respeito às áreas de preservação permanente e à reserva legal. Isso é fácil de comprovar em uma viagem aérea sobre o Paraná, onde começa a nova fase do projeto. À exceção de ilhotas de vegetação em meio a extensos campos de lavoura, só sobraram no estado a cobertura original da Serra do Mar, no Leste, e do Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste. Se a legislação fosse respeitada, esses dois biomas poderiam estar conectados pela mata ciliar do Rio Iguaçu, que atravessa o estado.
A empresa não tem uma estimativa de quantos hectares de mata nativa devem ser recuperados com o projeto, mas está animada com as perspectivas. Hoje, os pedidos de mudas somam 15 mil. “Os que aderiram à iniciativa estão animados pois percebem os benefícios de um novo conceito de reflorestamento. Não só o plantio de variedades nativas que conta, mas há uma preocupação com o aspecto paisagístico e com a interligação dos fragmentos de floresta”, afirma Edegold Schäffer, presidente da Apremavi.
O programa também inclui a distribuição de livros, cartilhas e jogos, que servem como ferramentas de educação ambiental e que destacam a importância da conservação das florestas e dos recursos hídricos. “Nem sempre é fácil argumentar com o agricultor, que sabe que a beira do rio tem um solo muito fértil. Ter água limpa e a natureza preservada são vantagens que muitas vezes ele tem dificuldade de valorar. Mas depois de três anos, as pessoas começam a ver os resultados alcançados pelos que fazem parte do Matas Legais”, completa Leandro da Rosa Casanova, da Apremavi, que é coordenador do projeto em Santa Catarina.
(Por Romeu de Bruns*, OEco, 25/07/2008)
* Romeu de Bruns é jornalista free-lancer no Paraná.