Há quem lembre que há alguns anos, na ida para a feira ou ao supermercado, antes de sair de casa não dava para esquecer a bolsa para carregar as compras. Com o tempo, pensando na praticidade e na correria do dia-a-dia, o comércio começou a disponibilizar sacolas plásticas para facilitar a vida do consumidor. Com a preocupação em torno do futuro do meio ambiente, está de volta a velha bolsa de pano. As sacolas retornáveis, ou as de materiais com decomposição mais rápida, estão nos planos de ações sociais de empresas privadas.

Na região, três cidades implantaram ou buscam parcerias para projetos no setor. Há um mês, em São Lourenço do Sul, uma rede de supermercado implantou o sistema da retornável. Em Bagé, há quatro meses, outra empresa do ramo comercial investiu em sacolas biodegradáveis (com decomposição mais rápida que a de plástico). Já em Pedro Osório, alunos da 8ª série da Escola Sagrado Coração de Jesus ainda buscam apoio do comércio local ou de grandes empresas para colocarem em prática a conclusão de um projeto de preocupação ambiental, denominado Sacando o Futuro, no intuito de diminuir no município o uso excessivo de sacolas plásticas, que levam 400 até anos para se decompor.

Como era antigamente
São Lourenço, cidade que durante a temporada de veraneio recebe visitantes, apresenta uma diversidade de projetos que visam divulgar os pontos turísticos do município. Com isso, vem também a preocupação em preservar o patrimônio natural da cidade. Além da administração, empresas privadas têm investido em ações sociais que visam a conscientização da comunidade para o tema.

Há um mês a rede de supermercado Jepsen implantou o projeto Deixaremos o Exemplo como Herança, elaborado por uma funcionária, e que estimula o uso das sacolas retornáveis. A iniciativa se deu depois de um plano estratégico apresentado pela psicóloga da empresa, que propunha a cada setor a preparação de planos de ação com a finalidade de unir os 350 funcionários e contar com a participação da comunidade. Entre os 16 projetos apresentados, o primeiro a ser colocado em prática foi o das bolsas de pano. “Foram diversas idéias e todas muito boas, mas tivemos que escolher uma para começar. Em um mês o resultado é muito promissor e a aceitação da comunidade totalmente positiva”, comemorou a psicóloga Áurea Martins.

As sacolas são produzidas com algodão. Segundo a idealizadora, Gládis Kruger Gehrke, a tentativa é conscientizar a comunidade para o desuso gradativo do plástico. “Aos poucos queremos desenvolver a consciência dos clientes internos e externos sobre os malefícios para a natureza”, explicou.

E pelo visto a iniciativa tem dado certo. Até agora já foram vendidas 500 bolsas e quem adquiriu garante que não é nenhuma mudança complicada. “Além da gente colaborar com o meio ambiente, é muito mais prático. Quando não tinha a sacola, fazia as compras e muitas vezes não havia mais lugar para colocar as plásticas que sobravam”, contou a dona-de-casa Laura Carvalho. A auxiliar de escola infantil Nara Scheer não sabia do projeto, mas na hora de empacotar as compras se interessou pela iniciativa. “Eu que trabalho com criança penso muito no futuro delas. Cuidar do meio ambiente e conscientizar os pequenos sobre essa importância é fundamental. Já comprei a minha sacola e vou levar essa iniciativa para a sala de aula”, enfatizou.

Para o proprietário do supermercado, Leander Jepsen, há 32 anos no segmento, essa é a primeira ação social da empresa. Antes do projeto eram adquiridas cem mil sacolas plásticas. Agora, além de diminuir o custo, ainda colaboram com a natureza. “Estamos muito satisfeitos e empolgados com esse trabalho. Além da recompensa financeira e da imagem positiva que o súper passa para a comunidade, sentimos que estamos fazendo a nossa parte para colaborar com o futuro”, analisou.

Para adquirir as sacolas retornáveis o consumidor pode juntar notas fiscais. Ao alcançar R$ 400,00, com mais R$ 4,00, o cliente leva para casa. Se preferir pode comprar a bolsa por R$ 8,50.

Outras cidades também utilizam material biodegradável
Os alunos da 8ª série da Escola Sagrado Coração de Jesus, de Pedro Osório, precisam do apoio do comércio local ou de grandes empresas para colocar em prática o projeto Sacando o Futuro, no intuito de diminuir no município o uso excessivo de sacolas plásticas, que levam 400 anos para se decompor.

A professora de Português e Inglês dos idealizadores do projeto, Carla Margot de Castro Oliveira, explicou que a iniciativa foi dos alunos. “Depois de observar o grande número de sacolas plásticas em suas casas, em pontos turísticos e prédios históricos da cidade, resolveram tomar uma atitude”, enfatizou. Ela se surpreendeu com as proporções que o trabalho tomou, iniciado apenas com o tema de redação na sala de aula.

Com pesquisa em campo, nos supermercados e comércio em geral, os alunos constataram a distribuição de cerca de 165 mil unidades todos os meses e um gasto de mais de R$ 6 mil com elas. A análise apontou ainda que 90% delas estão no aterro sanitário, por serem usadas como embalagem para o lixo doméstico. Os outros 10% ainda estão nas casas ou jogadas nas vias públicas.

Possíveis soluções
A sugestão para solucionar o problema seria a utilização de sacos de papelão pelo comércio em geral e, para os supermercados - maiores distribuidores dos de plástico - o uso de sacolas de materiais alternativos, até para os produtos frios não danificarem o papel da embalagem.

Poderiam ser utilizadas sacolas biodegradáveis ou de tecido. Devido ao custo mais elevado, os supermercados venderiam a embalagem a seus clientes por um valor entre R$ 1,00 e R$ 2,00, mas elas poderiam ser reaproveitadas quantas vezes fosse possível.

Projeto de Lei
Não existe qualquer lei federal que obrigue a utilização de sacolas retornáveis. No entanto, vários estados já apresentam projetos nestes moldes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e, inclusive, Rio Grande do Sul. Até agora são apenas projetos, sem qualquer eficácia coativa perante a população.

Mas em Uruguaiana, em setembro do ano passado, foi sancionada uma lei que obriga os estabelecimentos comerciais a utilizarem as biodegradáveis. Os empresários tinham prazo que variavam de dois a cinco meses para se adequarem à mudança de acordo com a área construída de cada estabelecimento.

A nova lei municipal exige a substituição das sacolas plásticas por produtos biodegradáveis. Além disso, as embalagens deverão ser em diferentes cores para facilitar a coleta seletiva de lixo.

Segundo a administração do município a maioria dos atingidos já se adequou às normas. Os que não cumprem são multados.

Experiência de Bagé
Em Bagé a iniciativa foi do empresário Tiago Rodrigues, da Rede Unifortchê. Há quatro meses a empresa implantou o sistema da sacolas biodegradáveis. A idéia surgiu do trabalho de conclusão do curso de Administração de Rodrigues. “Fiz a pesquisa e percebi que poderíamos dar uma grande contribuição para o futuro do meio ambiente. O custo é 10% mais alto, mas nós, empresários, precisamos começar a ter responsabilidade social e colaborar com o que pudermos”, analisou.

A sacola biodegradável é produzida com material que se decompõe mais rápido que as convencionais. Enquanto a de plástico demora 400 anos, a outra leva de seis a 18 meses para se decompor. “O material tem um aditivo que acelera o processo de decomposição através da luz, do ar e da chuva”, explicou. A aceitação da comunidade, segundo Rodrigues, é positiva. “Se cada um fizer um pouco, ainda acredito que podemos mudar tudo que está acontecendo de negativo com nosso País”, comentou.

Conseqüências
Só no Brasil, mais de um bilhão de sacolas de supermercados são despejadas no meio ambiente a cada mês. As sacolas plásticas ficam na natureza por 400 anos e depois disso os problemas não acabam. Durante a decomposição são liberadas substâncias tóxicas que contaminam a terra,
mar e rios.

Tempo de decomposição
Sacolas plásticas: 400 anos
Sacolas biodegradáveis: de seis a 18 meses

(Por Lisandra Reis, Diário Popular, 27/07/2008)