Insegurança e barulho, às vezes ensurdecedor, são alguns dos transtornos que fazem parte da vida dos moradores das áreas próximas ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. A passagem dos aviões sobre o telhado de residências e empresas faz parte do dia-a-dia de cerca de 250 mil pessoas. 'Às vezes o barulho é insuportável. Não dá para assistir à TV ou ouvir o rádio quando os aviões passam', lembra a estudante universitária Simone Vencato, que reside no bairro Sarandi, a algumas quadras do aeroporto.
Moradora desde criança no local, ela ressalta que as pessoas se acostumam com os barulhos causados pelos pousos e decolagens de aviões mas, mesmo assim, o incômodo é permanente. 'O horário que mais dá para notar é à noite, quando está mais silencioso. O maior problema é ter o sono interrompido na madrugada', afirma. Ela conta que algumas vezes partes da residência chegam a tremer durante a passagem das aeronaves e lembra que os estudos do irmão foram afetados devido às interrupções constantes das aulas, devido ao barulho dos aviões.
O aposentado José Argenta, morador da rua que passa ao lado do aeroporto, relata que há uns anos os problemas eram maiores. 'Moro há 60 anos aqui. No início, o barulho era mais alto. Com o tempo, acostumamos a parar de conversar ou a interromper um filme ou novela quando passa um avião', conta. Ele diz que, apesar dos transtornos, o Salgado Filho trouxe desenvolvimento à zona Norte. 'Temos todos os serviços próximos. Quando era criança essa região era deserta', recorda.
O barulho, que aumenta principalmente no final da tarde, é compensado pelo intensa movimentação de clientes, conta Ruan Eduardo Nuñez, que administra o posto de gasolina Vila Itália, na avenida Sertório. Devido à proximidade com o aeroporto, o fluxo de consumidores é bem alto durante as 24 horas de funcionamento. 'A maioria das pessoas abastece antes ou depois de voltar do Salgado Filho', conta.
O transporte de cargas, que ocorre entre as 22h e as 6h da manhã, traz ainda mais preocupação aos moradores, porque é feito com aviões antigos, chamados por eles de 'carroças voadoras'. O presidente da Associação dos Moradores do Lindóia, Daniel Kieling, alerta que as aeronaves usadas para prestar esse serviço são das décadas de 60 e 70.
Para evitar futuros problemas, as comunidades pretendem encaminhar denúncia, com documentos e imagens, ao Ministério Público Federal. O presidente da entidade antecipa que a associação aguarda a remoção das vilas Dique e Nazaré para depois ingressar com o pedido, que pode minimizar os transtornos aos moradores.
(Por Mauren Xavier, Correio do Povo, 27/07/2008)