Temendo uma migração desenfreada, como aconteceu durante a construção das usinas nucleares Angra I e Angra II, Angra dos Reis promete endurecer a liberação da licença de construção da usina nuclear Angra 3. O prefeito da cidade, Fernando Jordão, assinou decreto criando uma comissão para preparar um relatório técnico com as exigências que o município fará para emitir a licença municipal. Paraty, preocupada com a formação de bolsões de pobreza, já aprontou sua lista de pedidos para amenizar os impactos de Angra 3.
Além das obras de saneamento básico, o município adianta que não vai abrir mão de duas questões: o aproveitamento da mão-de-obra local durante as obras e de um cinturão para impedir a invasão do Parque Nacional da Serra da Bocaina, que já vem sofrendo pressão numa área de expansão do Perequê, no distrito de Mambucaba. A maior preocupação dos técnicos é a especulação imobiliária, principalmente no bairro Brachuy, a 25 km da usina, porque no Perequê, que fica mais próximo, não há mais espaço para novas construções:
- Queremos evitar o boom migratório. Existe uma força de trabalho aqui que chegou para a construção das duas primeiras usinas nucleares. Este pessoal precisa ser treinado e aproveitado com prioridade. Quanto ao parque, temos que ficar vigilantes porque a administração da unidade do Ibama fica em São José do Barreiro, em São Paulo, bem distante daqui - alertou Jordão.
Em documento enviado ao governador Sérgio Cabral, o prefeito pede o saneamento básico da cidade (incluída a Baía da Ilha Grande) como contrapartida para o licenciamento estadual para Angra 3. Jordão explica que a contrapartida seria uma ação mitigadora ao impacto ambiental que a construção da usina vai provocar. Angra dos Reis tem 149 mil habitantes, 55% dos quais dispõem de esgotos tratados pelo Serviço Autônomo de Águas e Esgotos de Angra dos Reis.
- Angra já tem um passível ambiental deixado por Angra I e II. Como não existem loteamentos aprovados em Angra, há um risco grande de fracionamento de terrenos e de construções irregulares em áreas de preservação sem infra-estrutura de água, esgotos e energia - alertou o subsecretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Mário Sérgio Reis.
O presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis (TurisAngra), Manoel Francisco de Oliveira, não acredita que, assim como as duas primeiras usinas, Angra 3 não trará prejuízos ao turismo na Costa Verde:
- É necessário, contudo, que as compensações estão incluídas no orçamento da obra para que o empreendimento não desarrume a nossa região com problemas sociais após o término das obras - disse Oliveira.
(O Globo, 26/07/2008)