O especialista em planejamento energético e professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasilia (UnB) Ivan Camargo criticou hoje (24) a lista de condicionantes prevista pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para emissão da licença ambiental prévia da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. Na avaliação de Camargo, o excesso de exigências vai encarecer o preço final da energia produzida pela usina.
“Todo incremento no custo quem paga é o consumidor final. Evidentemente, essa despesa quem vai pagar somos nós. É uma forma distorcida de criar um imposto, de tornar a energia nuclear ainda mais cara. E o Ministério do Meio Ambiente não pode criar imposto, isso cabe ao Congresso Nacional”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com o professor da UnB, a licença traz muitas exigências “questionáveis”, como a responsabilização da Eletronuclear pelo saneamento ambiental dos municípios de Paraty e Angra dos Reis e criação de programas de educação ambiental. “Algumas exigências estão ligadas a grandes temas, como saneamento e educação, e isso aí é função do Estado, de certa forma é um jeito de criar um imposto para a energia nuclear”, acrescentou.
Camargo elogiou a condicionante que prevê a destinação definitiva para os resíduos nucleares de alta radioatividade – “é absolutamente correta” – , mas defende que as exigências não sejam maiores que as utilizadas em outros países que adotam a energia nuclear. “É preciso respeitar a tecnologia desenvolvida no mundo, a exigência não precisa ser maior que no resto do mundo, precisa ser compatível; porque toda exigência maior implica em custo”, avaliou.
“Toda produção de energia elétrica causa impacto ambiental e tem risco, mas o risco pode ser controlado, o mundo tem tecnologia para que esse risco seja controlado. É disso que os agentes do governo têm que cuidar: monitorar para que os riscos de acidentes sejam os menores possíveis; um acidente nuclear é tudo o que a gente não quer, é claro; o processo de monitoramento, de acompanhamento tem que ser constante”, argumentou o especialista.
Defensor da energia nuclear, o professor da UnB é favorável à instalação de novas usinas desse tipo no Nordeste, como prevê o governo. “Tenho certeza que o Brasil precisa de muita energia elétrica, e para atender essa demanda crescente, a gente precisa de muitas fontes, e de fontes diversificadas, não adianta só fazer hidrelétricas. E a nuclear tem impacto ambiental menor, a emissão de gás carbônico (CO2) é muito menor se comparada com usinas térmicas, por exemplo; e a energia eólica ainda é cara”, ponderou.
(
Agência Brasil, 25/07/2008)