Corte de 38 espécies nativas onde será construído novo prédio do Ceat foi autorizado por órgão competente
O corte de 38 espécies de árvores nativas em terreno da Rua Bento Gonçalves, esquina com Alberto Torres, ao lado dos prédios da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), desagradou a muita gente. Desde o começo da semana, mensagens com críticas à eliminação de espécies como araucária, ipê e jerivá circulam entre e-mails e blogs. A retirada da vegetação ocorreu porque o Ceat irá construir no local um prédio com 13 mil metros quadrados para abrigar os alunos do Ensino Médio.
Nas mensagens, também remetidas à direção do Ceat e à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, questiona-se, inclusive, o critério de escolha da empresa responsável pelo projeto. A crítica refere-se à prorrogação da data da entrega do estudo no dia estabelecido para a apresentação do projeto, sem o consentimento dos participantes. A titular da pasta, Simone Schneider, informa que o corte das árvores nativas e exóticas foi autorizado pelo órgão. Segundo ela, como compensação, o Ceat comprometeu-se a plantar no período de um ano, 570 mudas nativas. "Desse montante, 120 ficarão no próprio educandário e 450 em um terreno da instituição, localizado entre os bairros Alto do Parque e Hidráulica", explica. Simone esclarece ainda que a única árvore do local que por lei era imune à derrubada é uma figueira, que foi transplantada para outra área do próprio colégio.
Sobre a araucária, muito comentada nas mensagens on-line, Simone explica que a espécie teve de ser retirada porque o projeto prevê a construção de um estacionamento no subsolo, o que prejudicaria a estrutura da planta. A secretária do Meio Ambiente frisa que o Ceat não poderia levantar o prédio na área onde fica o seu campo de futebol porque é passível de enchente. "Nesse caso existe um impeditivo legal."
Saiba mais
O Informativo do Vale entrou em contato com o Ceat. No entanto, a informação na secretaria foi de que todos os integrantes da comissão responsável pela construção do prédio estavam em férias. Apesar da insistência, a funcionária solicitou um novo contato apenas na terça-feira.
Opinião do leitor
Um dos primeiros a se manifestar sobre o corte das árvores foi o escritor lajeadense Ismael Caneppele. Abaixo segue trecho do texto escrito por ele sobre o episódio.
Com o filme foi-se o bosque
As filmagens do longa-metragem baseado no meu segundo livro, Os Famosos e os Duendes da Morte, chegaram ao fim aqui em Lajeado. (...) Eu deveria estar feliz. Mas não estou. Caminhar por Lajeado me encheu de uma tristeza profunda. (...) Descendo a Rua Bento Gonçalves, quase na Alberto Torres, o céu parecia mais nítido. Alguma coisa parecia diferente na paisagem. De longe era um pouco complicado entender o que estava diferente.
Alguns passos foram o suficiente para que eu entendesse a gravidade daquela estranha visão. Alguém havia roubado um pedaço da nossa paisagem. Alguém havia tirado de nós o nosso bosque. Não importa quem seja o dono. Não importa no nome de quem estava a centenária araucária localizada no exato ponto em que a Bento Gonçalves se encontra com a Alberto Torres. Não importa dar nome aos bois. Nem aos burros. Nem aos ignorantes.
A araucária não está mais lá. Junto com ela foi-se o bosque. Junto com o bosque foi-se uma paisagem. Junto com a paisagem foi-se mais um pedaço de Lajeado. Mais um pedaço de mim. Mais um tanto da nossa história (...)
(Por Ermilo Drews, O Informaivo do Vale, 25/07/2008)