Neste sábado, 26 de julho, as bancas da Feira dos Agricultores Ecologistas de Porto Alegre deixam de entregar sacolas plásticas aos seus clientes. A ação faz parte da campanha Menos Plástico Mais Saúde, iniciada em 2006. "Nossa feira se caracteriza por ser ecológica, por isso estimula práticas cotidianas relacionadas com a ecologia, tanto na produção dos alimentos limpos como no consumo consciente", afirma Glaci Campos Alves, engenheira agrônoma e uma das idealizadoras da feira. Segundo ela, campanhas para conscientizar os consumidores sobre os problemas causados pelo plástico na natureza e na saúde humana estiveram presentes ao longo dos 19 anos da FAE.
Problemas para a saúde
Segundo Eduardo de Oliveira da Silva, doutorando em química na UFRGS "o que prejudica a saúde são os componentes utilizados no processamento dos plásticos. Pesquisas já comprovaram que plastificantes como o DOP, dioctil fitalato, são cancerígenos e reduzem a fertilidade masculina".
Por sua eficiência e baixo custo, o DOP é utilizado em vários materiais, como copinhos de café ou chá. Quando os recipientes receberem o líquido aquecido liberam a substância cancerígena que ingenuamente é ingerida pelos ávidos por café ou chás. Um extenso relato sobre substâncias contaminantes que acompanham as moléculas de plástico está no livro O futuro roubado, publicado em 1996, por Theo Colborn.
Poluição ambiental
Resultado da praticidade e do conforto, milhões de resíduos de sacolas e embalagens plásticas são descartadas a cada dia no planeta. De material fino e aparentemente assimilável pela natureza, uma sacola plástica pode levar centenas de anos para ser degradada.
"Os plásticos originam-se de substâncias naturais, os monômeros vindos do petróleo e, agora, do etanol", esclarece a química Karla Dall Alba. Ao sofrerem uma reação química chamada polimerização, os monômeros ligam-se uns aos outros formando uma substância resistente que une moléculas longas, chamada polímero.
Enquanto os polímeros naturais, como algodão, madeira, cabelos, látex, possuem organismos capazes de quebrar as suas moléculas, os polímeros sintéticos obtidos por reações químicas persistem no meio ambiente e chegam na cadeia alimentar. Aves, tartarugas e peixes morrem ao consumirem sacolas plásticas ou tampas de garrafas que chegam ao oceano levadas pelas águas poluídas nos rios.
Soluções enganosas
Algumas empresas apresentam novos tipos de plástico que podem desorientar os consumidores mal informados. As novas vedetes lançadas no mercado são os plásticos oxibiodegradáveis e o plástico verde. Com o marketing de desaparecerem mais rápido, os plásticos oxibiodegradáveis apenas reduzem o tamanho dos polímeros. "Na sua composição são adicionados aditivos que facilitam o processo físico de oxidação", explica Camila Timm Wood, graduanda em biologia, que pesquisa a assimilação desse material pelos tatuzinhos, pequenos crustáceos que degradam materiais transformando-os em solo.
Segundo Wood, a molécula de plástico oxibiodegradável é quebrada em partes menores, menos visíveis, mas os pequenos pedaços continuam inteiros, como uma poluição invisível. "Sua decomposição é apenas física e não biológica. A curto prazo as enzimas de microorganismos não conseguem disponibilizar o carbono, o hidrogênio e o oxigênio a outros seres vivos".
As moléculas menores de plástico são consumidas pelo fitoplâncton que por sua vez servem de alimento aos peixes. "Existe a possibilidade de sermos plastificados ao longo da cadeia alimentar", alerta o ambientalista Jacques Saldanha. "Como o plástico não consegue ser digerido, ele vai alojar-se no corpo dos animas que cedo ou tarde servem de alimento para o ser humano, o qual também irá acumular partículas de plástico nas suas células e tecidos."
Plástico biodegradável
Outro material, ecologicamente correto, é o plástico biodegradável que pode ser obtido a partir de amido, como o da mandioca, ou de reservas energéticas produzidas por bactérias. "Eles são biodegrádaveis por serem capazes de transformar-se em água, gás carbônico, metano, compostos inorgânicos e biomassa". Wood comenta que universidades de São Paulo e Santa Catarina estão trabalhando na pesquisa e produção dessa matéria-prima.
O plástico verde apresenta os mesmos problemas de decomposição do tradicional, originado do petróleo. "Eles são quimicamente iguais, a diferença está na sua origem. Um provém da destilação do petróleo, o outro resulta do etanol que sofre processos químicos para ser desidratado até transformar-se em etileno", esclarece Silva.
Evento
Dia sem sacolas plásticas na Feira dos Agricultores Ecologistas
Dia: 26 de julho
Local: primeira quadra da Av. José Bonifácio, Porto Alegre, RS
Opção: banca de embalagens oferece sacolas de pano entre R$ 3,50 e R$ 23,00
Convidados: Ingá e Greenpeace para esclarecer dúvidas sobre o plástico
(Por Cláudia Dreier, Eco Agência, 24/07/2008)