Obra na fronteira já consumiu R$ 1,1 milhão
Sob o sol do inverno, 12 cavalos e duas vacas pastam despreocupadamente em meio a gigantescas estruturas de concreto abandonadas no alto de uma coxilha em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai.
O capim mastigado brota na areia que há três anos começou a soterrar a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Jaguarão-Rio Branco, uma obra que já consumiu R$ 1,1 milhão e nunca foi concluída.
Iniciada em 2002, a estação deveria ser responsável pelo tratamento de 100% do esgoto da cidade de 27,9 mil habitantes, mas em dezembro de 2004 o projeto foi abandonado pela direção da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), porque a empresa não detinha a concessão para tratar esgoto no município.
- Foi uma obra iniciada de modo equivocado - admite o atual diretor-presidente da Corsan, Mário Freitas.
Desde então, as gigantescas piscinas de concreto permanecem cheias de água da chuva, mato e lixo e acabaram transformadas em grandiosos viveiros de mosquitos. O acesso fácil ao local - a corrente e o cadeado do portão principal se romperam pela ferrugem e foram substituídos por uma corda - faz das profundas estruturas um perigo iminente para crianças e adolescentes desavisados ou imprudentes.
Por todo o terreno localizado na Vila Barreiros, erguem-se construções das quais é impossível adivinhar a função, mas que se deterioram a olhos vistos. Em alguns pontos, canos de PVC brotam da terra e revelam que, abaixo do pasto, o desperdício do dinheiro público continua.
Em outros locais, pedaços das estruturas racham ou se quebram, enquanto areia e pedras espalhadas indicam a perda de parte dos materiais usados no empreendimento.
O abandono do lugar aborrece moradores próximos, como o aposentado Gabriel Pinto, 80 anos, e seu filho Natálio Luís Martins Pinto, 35 anos, que por seis meses trabalhou como ferreiro no canteiro de obras.
- Chegamos a ter 180 operários aqui, e agora está tudo atirado - reclama Natálio.
De acordo com o diretor-presidente da Corsan, a companhia negocia com a prefeitura de Jaguarão a concessão do tratamento de esgotos do município. Se assumir o serviço, o órgão pretende terminar a estação e ampliar de 50% para 100% o total de residências atendidas. A conclusão da obra deve consumir mais cerca de R$ 2 milhões.
(Por Alvaro Guimarães, Zero Hora, 25/07/2008)