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pinguins impactos mudança climática pesca industrial
2008-07-25

Fábio Rudge não é biólogo e tampouco estuda os fenômenos ambientais com regularidade, mas vive em Búzios (RJ) há tempo suficiente para saber quando algo está fora da ordem natural. Morador da cidade mais festejada do balneário fluminense há duas décadas, o analista de sistemas tomou um susto quando passeou pela praia de Manguinhos numa quarta-feira de julho e se deparou com cerca de 12 Pingüins-de-Magalhães mortos nas areias. “Sei que eles aparecem por aqui nesta época do ano, e estou acostumado a ver um ou dois mortos. Só que, em duas semanas, eu contei 52 vítimas. Tem alguma coisa errada”, argumenta.

Esta foi uma das primeiras frases que Fabio disse à reportagem de O Eco na última sexta-feira, quando o site foi conferir com os próprios olhos o cenário anunciado pelo telefone. Durante o passeio de um quilômetro pela orla que fica no quintal de sua casa, a indignação do carioca de nascimento só fez aumentar a cada pingüim encontrado morto. No total, em apenas 15 minutos de caminhada, seis animais foram avistados sem vida – alguns com aspectos terríveis. “Liguei para o Ibama de Cabo Frio, e ninguém atende. Já chamei os bombeiros, mas eles não vêm buscá-los, e a prefeitura também faz pouco caso. Ninguém faz nada”, reclama.

Com parcas informações e nenhuma experiência no trato de pingüins, os moradores fazem o que podem. Foi o caso, por exemplo, da esposa e filha de Fabio. Em um passeio de bicicleta por Manguinhos, as duas avistaram um animal ainda vivo, agonizante. Não pensaram duas vezes: pegaram a ave, a colocaram em uma caixa de papelão e levaram ao veterinário mais próximo. Como ele não quis aceitar, pedalaram por dez quilômetros até o centro em busca de outro profissional, que achou por bem cuidar do animal.

A curiosidade e irritação com a política do município não são privilégios apenas dos Rudge. Basta saltar do carro, colocar os pés no chão de Búzios e conversar com seus habitantes para notar que ninguém sabe ao certo o que está acontecendo. E nem como agir. “Todo ano tem pinguim aqui nessa época, mas não nessa quantidade. Vejo alguns nadando muito fracos em alto mar”, diz Fábio Alves, o Pepa, pescador nascido e criado nas praias da cidade.

Assustada e sem ajuda, a população decide fazer justamente o que não deveria: levar a ave para casa com o intuito de cuidar e dar alimentação. “Aqui todo mundo tem um pingüim. Vê o bicho morrendo na praia, e vai entregar pra quem? Quais são os primeiros socorros? Algiuém precisa nos dizer como agir”, avalia Pedro Alcântara, dentista que há vinte anos trocou o bairro do Flamengo, na capital, por Búzios. Hoje, tem um projeto que insere recifes artificiais nas águas da região. “Tem gente que dá açúcar, sardinha, tudo na maior boa vontade. Mas é que não tem explicação do que é certo ou errado”, avalia.

Criticada por sua fraca atuação no resgate aos pingüins, que só desaparecem das praias porque são levados pelas marés cheias, a Secretaria de Ambiente de Búzios tenta se defender. Segundo Eduardo Rodrigues, auxiliar administrativo da pasta, os turistas e locais recebem orientação para não tocar em nenhum indivíduo. “Eles só querem se aquecer e voltar ao mar”, explica. Embora não saiba sobre tantas mortes, Rodrigues pede que entrem em contato com a secretaria sempre que uma ave estiver manchada de óleo ou com algum ferimento. Neste caso, uma equipe é enviada para buscá-la e encaminhá-la a um veterinário.

O funcionário, que também é gestor ambiental, tem uma versão plausível para o aumento no número de animais deste tipo encontrados nas praias da Região dos Lagos do Rio de Janeiro. “Não vi nenhum estudo sobre isso, mas suspeito que o aquecimento global esteja por trás. Com o aumento do degelo de calotas polares, a corrente marítima da Ressurgência, que os traz para cá, fica mais forte”, diz. Questionado sobre o que fazem com as aves encontradas já mortas, Eduardo foi categórico. “Neste caso, pedimos que a secretaria de Recursos Públicos recolha”.

“Descarte de população”
Não é apenas Búzios que sofre com a invasão de pingüins. Seus vizinhos Cabo Frio e Arraial do Cabo passam pelo mesmo problema. A situação fica mais grave, no entanto, porque só há um lugar público nos três municípios que aceita receber os animais para cuidar: a Guarda Marítima e Ambiental de Cabo Frio. Como a jurisdição não permite que os funcionários do estabelecimento visitem as cidades vizinhas para resgatar os animais, é necessário esperar que cidadãos comuns os levem até lá.

Foi o que aconteceu na última sexta-feira. Por volta das 14:30hs, a família Berchtold chegou na sede da Guarda com um indivíduo aparentemente saudável, embrulhado em uma toalha. Como todos os outros, trata-se de um Pingüim-de-Magalhães, espécie que vive no sul da Patagônia Argentina e é levada pela corrente das Malvinas - conforme já contou a repórter Fernanda Martorano em recente reportagem. Úrsula Berchtold, mãe das duas meninas (como mostra a fotografia), ligou no final da tarde para dizer que passou por mais de trinta pingüins mortos em uma praia de Arraial do Cabo. De acordo com um pescador que preferiu não se identificar, algumas embarcações estão usando uma rede de três malhas, que é mais fina do que a tradicional e uma verdadeira armadilha para as aves. Alguns veículos voltam do mar com 150 pingüins mortos, que são despejados na areia e lá abandonados.

A diretora da Guarda, Miriam Lima, tem uma resposta na ponta da lingua para explicar os motivos do grande número de mortos verificados este ano: só nos últimos dois meses, a estrutura que ela coordena já recebeu 150 indivíduos. Deles, 30% morreram. “Como este fenômeno é novo, procuramos órgãos ambientais e universidades para entender o que ocorreu. O problema foi que eles estão nascendo em um número muito mais elevado do que nas outras temporadas. Com isso, mais indivíduos se perdem da corrente marítima e vêm parar nas nossas praias”, conta Miriam, para depois completar. “A proporção no número de mortes é a mesma; o que mudou foi o volume de visitantes. Além disso, como são animais muito jovens, estão fracos porque nadaram demais e tiveram contatos com vírus e bactérias típicos de ambientes como o da nossa costa. O sistema imunológico desses pingüins não está acostumado”.

De fato, nenhuma das aves desemboca nas praias do Rio de Janeiro porque quer. São acidentes que ocorrem todo ano em virtude de uma evolução natural da espécie. Na Patagônia, os casais mais fortes chocam seus ovos na linha do mar, enquanto os mais fracos ficam cada vez mais longe. O macho e a fêmea revezam para buscar alimentos nas águas. “Imagine quando um macho que está a 500 metros do mar precisa buscar comida. Ele é bicado pelos outros até chegar na água e, quando a alcança, precisa nadar muito longe para buscar o alimento, já que a beira é tomada pelos fortes. O seu filhote, então, é alimentado poucas vezes. Quando este precisa almoçar sozinho, não tem o cacoete dos outros, entra na corrente e se perde. Vem parar aqui. Costumo chamar isso de descarte de população”, diz Valéria Hadel, bióloga do centro de Biologia Marinha da Universidade Federal de São Paulo.

Como se vê, são os bichos mais fracos e novos que chegam à costa nacional. Por isso, o cuidado é fundamental. Ao encontrar um pingüim vivo em alguma areia, o cidadão deve seguir algumas dicas: nunca colocar o animal no gelo – trata-se de uma espécie sub-temperada, que não está acostumada com temperaturas inferiores a seis graus Centígrados. É importante armazená-lo em uma caixa de papelão repleta de folhas de jornais amassadas, com espaços entre elas. “Desta forma, um ar fica concentrado ali e esquenta o ambiente. Depois disso, é preciso levar para algum lugar onde cuidem. Se não tiver carro, peça carona para a Defesa Civil ou Corpo de Bombeiros”, diz Hadel.

No início da noite de sexta-feira, a reportagem de O Eco acompanhou a soltura de dois pingüins efetuada pela Guarda Marítima e Ambiental de Cabo frio. Após 30 minutos dentro de um bote a motor, chegamos em alto mar, próximo à corrente de Ressurgência. Ali, as aves foram devolvidas ao seu habitat natural apenas poucas horas depois de terem sido resgatadas. Logo em seguida, o motorista da lancha, Maurício, preocupado com as águas instáveis, decidiu que era hora de voltar para terra firme. Ficou a torcida para que os pequeninos animais encontrem o caminho de volta para casa.

(Por Felipe Lobo, OEco, 24/07/2008)


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