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poluição na china política ambiental china
2008-07-24

Fumaça, partículas de poeira, multiplicação explosiva de algas: os altos níveis de poluição na região na qual serão disputadas as Olimpíadas deixam o mundo esportivo preocupado. As autoridades chinesas têm trabalhado febrilmente para resolver o problema - fechando fábricas, impedindo a circulação de carros nas ruas e renovando a promessa de "jogos verdes". Mas será que isso será suficiente?

No pátio há um edifício prateado, feito de lâminas metálicas, que lembra um centro de controle de mísseis. Dentro dele há grandes telas nas paredes, com luzes e gráficos que mostram as formações de nuvens em tempo real em toda a China. Cientistas de jaleco branco sentam-se silenciosamente em filas duplas em frente a computadores e compilam os dados.

Wang Chunlin, um homem com um corte de cabelo bem curto, está de bom humor. O engenheiro do Departamento de Proteção Ambiental de Pequim tem boas notícias: "Teremos ar limpo. O melhor período do ano é em agosto e setembro". Wang sorri consciente da importância das suas previsões. O seu país precisa urgentemente de prognósticos ambientais favoráveis.

Os Jogos Olímpicos deverão ter início em Pequim daqui a apenas três semanas. E a questão do clima e das condições ambientais na capital chinesa é provavelmente uma das mais importantes, e neste momento preocupa pessoas em todo o mundo.

Pequim, com uma população de 17 milhões de habitantes, é uma das cidades mais poluídas do mundo. Em dias de 'smog', as pessoas que circulam pelas ruas usam máscaras para protegerem-se da poluição. Uma recente medição realizada nas imediações do Estádio Olímpico revelou que a concentração de partículas de poeira na atmosfera estava cinco vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMC). Muitos dos atletas que estarão competindo por medalhas em Pequim estão intranqüilos quanto a isso. Aqueles que participarão de provas de resistência estão especialmente preocupados com questões relativas à saúde e com a possibilidade de redução da capacidade de alcançar o potencial físico máximo. Os especialistas já sentem que certos atletas de pista não serão capazes de alcançar o seu melhor desempenho devido à poluição atmosférica.

Por outro lado, os anfitriões continuam garantindo que as coisas não são tão ruins quanto parecem. O governo chinês prometeu ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que organizaria "jogos verdes". Medidas de caráter maciço, que só são possíveis em um sistema totalitário (incluindo o fechamento de fábricas e a proibição de tráfego de veículos), estão sendo tomadas para evitar uma situação embaraçosa, como ciclistas e corredores tossindo e ofegando enquanto lutam para chegar à linha de chegada.

A quinta-feira passada foi o tipo de dia com o qual o governo chinês espera contar nas Olimpíadas. O céu sobre Pequim estava azul e ensolarado, com pouquíssimas nuvens, e podia-se ver nitidamente as montanhas ocidentais à distância. Turistas tiravam fotos em frente ao "Ninho do Pássaro", o novo estádio nacional. O tempo na capital chinesa estava simplesmente magnífico.

Porém, a verdade é em agosto que Pequim geralmente parece-se mais com uma sauna gigante. A temperatura chega a 40ºC, a umidade é elevada e uma névoa cinzenta paira no ar. De 8 a 24 de agosto do ano passado não houve um dia sequer no qual a qualidade do ar atendesse aos níveis estabelecidos pela OMS.

Quando há 'smog', a Cidade Proibida desaparece por detrás de uma muralha cinzenta. Apesar da proximidade, apenas contornos vagos da construção podem ser vistos a partir do futurístico centro televisivo localizado na estrada que contorna a cidade, conhecida como Terceiro Anel. Em tais dias, a paisagem das montanhas ocidentais é apenas uma memória distante.

Os habitantes da cidade tossem e sentem ardor nos olhos. Uma camada úmida e pegajosa se forma sobre tudo. A concentração de partículas de poeira, óxido nitroso e dióxido de carbono sobe para patamares drásticos. As autoridades publicam mensagens advertindo os indivíduos asmáticos a ficar dentro de casa e fechar as janelas.

"O meu filho de cinco anos sofre de dor de garganta crônica desde os dois anos de idade. Ele tosse sem parar para limpar a garganta", diz a secretária Wang Hongmei. "A causa disso é a poluição atmosférica".

Parte dessa mistura tóxica vêm dos canos de descarga dos mais de três milhões de automóveis que congestionam as ruas de Pequim em dias intercalados. Embora a prefeitura municipal tenha imposto padrões europeus para as emissões dos canos de descarga, há tantos veículos novos registrados a cada dia que nem mesmo as regras mais rígidas conseguem ajudar.

Parando Pequim
Um outro problema é o fato de várias fábricas e usinas elétricas situarem-se em áreas residenciais. Elas são uma maldição do passado, um legado que Pequim deve a Mao Tsé-Tung, o fundador do Estado chinês moderno. Mao enxergava um ideal socialista no cenário formado por chaminés e fábricas ao lado de residências e centros culturais.

Chaminés de usinas elétricas chegam a destacar-se no céu perto do Parque Olímpico. Nos arredores da cidade há dezenas de usinas siderúrgicas e fábricas de produtos químicos que contribuem para o crescimento econômico da China. Em ruas situadas em locais adversos, a favor dos ventos, prédios de escritórios e de apartamentos residenciais ficam encobertos pelos gases mau cheirosos emitidos por essas instalações. Quando a areia é trazida pelo vento do Deserto de Gobi e mistura-se à poeira fina que é emitida durante todo o ano nos incontáveis canteiros de obra em Pequim e nos arredores, o ar adquire uma coloração marrom-amarelada e provoca acessos de tosse nas pessoas expostas a ele.

O governo gastou o equivalente a ? 10,7 bilhões (US$ 16,8 bilhões) nos últimos anos na tentativa de cumprir a promessa dos "jogos verdes". As autoridades transferiram fábricas de local, construíram linhas de metrô e substituíram caldeiras ultrapassadas. Além disso, foram elaborados planos especiais para quando os jogos de fato começarem. A idéia é parar completamente a metade da cidade.

No último domingo vários canteiros de obras e postos de gasolina foram fechados. As fábricas tiveram que interromper as atividades ou reduzir em um terço as suas emissões. Durante os próximos dois meses vigorará em Pequim uma proibição especial da circulação de automóveis. Os motoristas só terão permissão para dirigir os seus carros em dias intercalados. Cerca de 300 mil veículos que não atendem aos padrões atuais de emissões de gases não poderão circular em dia algum. A queima de capim ou palha será proibida nos campos em torno de Pequim.

Os ambientalistas elogiaram essas medidas. Uma coluna de fumaça branca sai de uma chaminé de uma usina termoelétrica movida a carvão no distrito de Chaoyang, em Pequim. "Nós instalamos novos filtros", afirma com orgulho o vice-diretor Yu. "Fomos capazes de reduzir as nossas emissões de dióxido de enxofre para 20 miligramas por metro cúbico. Exatamente como o governo exige".

Mas será que medidas como essa serão suficientes? "Visite com mais freqüência o jardim botânico", foi o conselho que recebi não faz muito tempo de um funcionário graduado do Ministério do Meio-Ambiente, que pediu que o seu nome não fosse revelado. "Em todo os outros locais a concentração de partículas de poeira é tão elevada que eu não tenho permissão para revelá-las".

Os pontos azuis no gráfico mostrados no Índice de Poluição Atmosférica de Pequim (API) faz com que ele pareça um aquário no qual as bolhas sobem à superfície. Em vários dias no período de março de 2007 a junho de 2008 a concentração de poluentes ficou entre 100 e 200 pontos API. Em outros dias esse índice chegou a 500 pontos, o que significa um risco significativo para a saúde pública.

Wang Chunlin, o funcionário do Departamento de Proteção Ambiental de Pequim, demonstra bastante auto-confiança. O seu departamento conta com um conjunto próprio de definições para ar limpo e sujo. Para Wang, o céu é azul quando o índice API fica em 100. Quando os cientistas em Hong Kong mencionam uma "ligeira poluição", Pequim anuncia uma qualidade atmosférica "excelente" para as mesmas condições.

Uma "campanha de desinformação"
Uma batalha de propaganda está sendo travada em torno das medições dos índice de poluição. Repórteres postam-se em frente ao Estádio Olímpico com instrumentos de medida de poluentes e dizem ao mundo que o ato de respirar em Pequim deixa as pessoas doentes. Wang e a sua equipe estão fazendo tudo o que podem para desmentir essa impressão.

Foram instaladas 27 estações de monitoramento para que seja possível informar qual é a qualidade do ar na cidade durante os Jogos Olímpicos. E nos últimos dias as autoridades têm anunciado que tudo está bem. Porém, o cientista norte-americano Steven Andrews observou que duas estações de monitoramento foram retiradas de locais com um volume elevado de tráfego, e três outras foram instaladas em áreas nas quais o índice de poluição é mais baixo.

Andrews também descobriu que os níveis padrões de poluição foram secretamente degradados, que foram feitas modificações na lista de substâncias poluentes avaliadas e que algumas substâncias, como o ozônio, simplesmente não foram medidas. Andrews fala de uma campanha de desinformação. Segundo ele, há todos os motivos para se acreditar que as tentativas de Pequim de garantir que os Jogos Olímpicos sejam "verdes" estão fadadas ao fracasso. Para ele, tudo o que a China conseguiu fazer foi encontrar maneiras ardilosas de ocultar a sua incapacidade de reduzir os índices de poluição.

Os atletas, cujos desempenhos poderiam transformar as Olimpíadas de Pequim em um festival esportivo de superlativos, estão perturbados com a situação. Muitos deles, incluindo os das equipes de atletismo alemã, britânica e sueca, decidiram não vir para Pequim para prepararem-se para os Jogos, tendo seguido, em vez disso, para o Japão ou a Coréia do Sul. "Queremos aguardar o máximo possível antes de nos expormos à poluição de lá", afirma o saltador alemão Eike Onnen. As equipes olímpicas da Holanda e da Suíça foram para a cidade costeira de Dalian para o treinamento que antecede a competição. Muitas equipes só pretendem voar para Pequim pouco antes do início dos jogos.

Segundo David Martin, especialista em respiração e fisiologista do exercício da equipe de maratona dos Estados Unidos, para um atleta, respirar o ar de Pequim equivale a "alimentar-se com veneno". O recordista mundial etíope Haile Gebrselassie decidiu não participar da maratona e competirá apenas nos dez mil metros. Ele sofre de asma e teme que correr distâncias maiores nas condições atmosféricas atuais de Pequim possa prejudicar a sua saúde. O médico da equipe norte-americana de boxe Frank Filiberto acompanhou 11 boxeadores em uma viagem a Pequim, para uma competição, em novembro do ano passado. Na primeira manhã que ele passou na cidade, os atletas retornaram de uma corrida de 20 minutos reclamando de ardência nos olhos e problemas respiratórios: "Na minha opinião, esses boxeadores são provavelmente os melhores atletas do mundo", afirma Filiberto. "Mas eles não acreditam ser capazes de agüentar três assaltos de uma luta em Pequim".

O COI tem procurado minimizar a importância do problema. Afinal, até mesmo o Greenpeace considera a legislação ambiental da China "progressista". Autoridades do COI dizem que a maratona e o triathlon poderão ser adiados se os índices de poluição do ar estiverem especialmente elevados nos dias para os quais estes eventos estão marcados.

Mas de repente surgiram fotos que não podem ser negadas. Um gigantesco tapete de algas apareceu em frente à cidade de Quingdao, bem na baía onde deverão ser disputadas as competições olímpicas de vela.

Não se sabe de onde vieram as algas. Seria um fenômeno natural aleatório? Ou o resultado da péssima qualidade da água na região devido às descargas de poluentes e do uso excessivo de fertilizantes durante décadas?

Milhares de soldados e voluntários passaram vários dias retirando toneladas de algas da água e construindo cercas de proteção em torno do percurso de regatas. Por ora parece que evitou-se um desastre, mas ninguém sabe se será possível prevenir uma nova proliferação descontrolada de algas.

Até o momento os problemas referentes ao abastecimento de água em Pequim não atraíram muita atenção. Mas a cidade está ficando seca. Mais de duzentos rios, ribeirões e canais estão marcados em azul nos mapas oficiais. Mas quando alguém vai procurá-los só encontra um leito seco. Esta perda de cursos d'água naturais vem ocorrendo há vários anos. Nos leitos secos só há mato e arbustos.

Não obstante, o percurso de regata está atualmente cheio com três metros e meio de água. "É água fresca e clara. Nós a estamos retirando do subsolo", afirma um funcionário de uma companhia que foi contratada para fazer a obra.

O mesmo método garantirá que vários rios e canais estarão cheios d'água durante os jogos. Os ambientalistas estimam que mais de 200 milhões de metros cúbicos de água serão bombeados do subsolo para possibilitar a realização desses eventos esportivos.

Quem pagará o preço por essa extravagância serão os agricultores chineses que estão tendo que bombear água de poços profundos para Dai Qing.

Porém, parece que para o governo a necessidade de manter as aparências é mais importante. Um novo conjunto de estatísticas surgiu dias atrás, sugerindo que há uma forte possibilidade de que o tempo esteja chuvoso em 8 de agosto, o dia da cerimônia de abertura.

Tempo chuvoso? Isso é inaceitável. O serviço nacional de meteorologia elaborou planos contingenciais no sentido de lançar foguetes cheios de produtos químicos para provocar a dissipação de nuvens de chuva no pior cenário. Entretanto, a capacidade da ciência de controlar o tempo é limitada. O meteorologista Chen Zhenlin admite: "Quando começa a chover forte simplesmente não há muito que possamos fazer quanto a isso".

(Por Andreas Lorenz, Der Spiegel, UOL, 24/07/2008)


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