A Somincor, empresa concessionária da mina de Neves Corvo, no concelho alentejano de Castro Verde, está a ultimar o desenvolvimento de uma nova tecnologia de acondicionamento dos sulfuretos reactivos produzidos nas lavarias do cobre e do zinco.

A alternativa que está a ser testada desde 2001, designada por "Projecto da Pasta", consiste na produção de uma pasta de subprodutos rejeitados e na sua deposição na albufeira da barragem, em células criadas para o efeito e sem necessidade de cobertura de água, como acontece na deposição actual de resíduos contaminados.

A nova solução assegura o armazenamento do total de rejeitados previstos no plano de vida da mina, até 2022, e dos existentes na área actualmente ocupada pela Barragem de Rejeitados do Cerro do Lobo (BCL), onde esses subprodutos são depositados desde que, em 1980, foi iniciada a exploração mineira deNeves Corvo.

Com efeito, a actual capacidade de armazenamento na BCL, que já foi sujeita a três alteamentos, em 1990, 1993 e 2005, ficará esgotada em 2010. Um novo alteamento "poderia vir a gerar constrangimentos a nível da segurança da barragem", salienta o parecer da comissão de avaliação de impacte ambiental (AIA), apresentado em Janeiro de 2008, considerando "tecnicamente complicada" a construção de uma nova barragem que traria "grandes impactes ambientais de natureza negativa", havendo sempre riscos de ruptura das barragens, como aconteceu há alguns anos na vizinha Andaluzia, com a consequente contaminação das linhas de água.

Deste modo e com o objectivo de encontrar uma nova solução técnica para a deposição dos sulfuretos reactivos e reduzir os efeitos negativos do período pós-fecho da mina, a Somincor avançou para a realização de um estudo destinado a encontrar alternativas de gestão de rejeitados. De acordo com as conclusões desse estudo, tornou-se claro que era preciso um método que utilizasse o espaço da actual barragem. A solução encontrada passa pela aplicação de um método de deposição "a seco", em pasta distribuída por células, e preconiza a construção de uma unidade industrial, completamente automatizada, baseada num "espessador de cone profundo", para dar maior densidade aos rejeitados.

Na fase de exploração deste novo sistema, o parecer do estudo de impacte ambiental (EIA) considera os "potenciais impactes negativos diminutos e pouco prováveis", dado que os volumes de infiltração no subsolo previstos "são reduzidos" e acrescenta que os resultados obtidos indicam que a deposição dos rejeitados em pasta "é muito menos penalizante que a actual situação de deposição subaquática".

A porta-voz da Somincor, Lígia Várzea, realça que a deposição de rejeitados em pasta permite o seu "armazenamento total ", na actual albufeira da barragem, "sem necessidade de alteamento dos aterros existentes". Ao mesmo tempo esta nova tecnologia aplicada pela primeira vez em sulfuretos reactivos permite que "o aterro esteja praticamente encerrado no final da vida da mina", previsto para 2022, e sem os impactes ambientais e económicos que traria o actual sistema de deposição sub-aquática.

O estudo de viabilidade do "Projecto da Pasta" foi já entregue às autoridades ambientais e a fase de engenharia de base está concluída, enquanto a fase de engenharia de detalhe está a ser iniciada, "sendo o objectivo da Somincor iniciar a produção e deposição de pasta no primeiro trimestre de 2010", conclui Lígia Várzea.

(Por Carlos Dias, Ecosfera, 24/07/2008)