O instituto que aconselha a Comissão Europeia para as questões da Energia propôs ontem um plano ambicioso para abastecer de electricidade toda a Europa com a energia solar captada no deserto do Sara, revelam hoje os jornais “The Guardian” e “El Mundo”. A proposta tem o apoio político de Gordon Brown e Nicolas Sarkozy.
“Bastaria captar apenas 0,3 por cento da luz solar que incide sobre os desertos do Sara e Médio Oriente para satisfazer todas as necessidades energéticas da Europa”, disse Arnulf Jaeger-Walden, do Instituto para a Energia da Comissão Europeia, no Fórum Euroscience 2008 (ESOF), que decorreu em Barcelona de 18 a 22 de Julho, citado pelo “El Mundo” online.
Os cientistas pedem a criação de uma série de centrais solares gigantes como parte de um plano para partilhar os recursos de energias renováveis da Europa por todo o continente. Essa nova rede energética já tem o apoio político do Presidente francês, Nicolas Sarkozy, e do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Através desta rede – com cabos de alta voltagem e corrente contínua -, o Reino Unido e a Dinamarca podem exportar energia eólica e importar energia geotérmica produzida na Islândia, por exemplo. A iniciativa responde às críticas de que as renováveis nunca serão economicamente viáveis porque o clima não é suficientemente previsível. Segundo explica o “The Guardian”, mesmo que o vento não sopre com força suficiente no Mar do Norte pode soprar algures no resto da Europa.
Explorar o Sol que atinge o Sara pode ser especialmente eficaz porque a luz solar ali é mais intensa. Os painéis fotovoltaicos no Norte de África poderiam gerar até três vezes mais electricidade, comparados com os painéis do Norte da Europa.
A maior fatia dos custos vem do desenvolvimento da rede que ligasse os países do Sul do Mediterrâneo. Estes ainda não têm capacidade para transportar a electricidade que as centrais solares africanas poderiam gerar. Mas já há trabalho feito. A Argélia pretende exportar seis mil Megawatts de energia solar para a Europa em 2020.
Os cientistas admitem que serão precisos muitos anos e um grande investimento para o Norte de África gerar energia solar suficiente para abastecer a Europa. No entanto, em 2050, aquela região pode produzir cem gigawatts, mais do que a electricidade gerada por todas as fontes no Reino Unido. O custo seria de cerca de 450 mil milhões de euros. Jaeger-Walden acredita que a construção das centrais solares no Norte de África ajudaria a baixar os custos da energia para os consumidores.
(Ecosfera, 24/07/2008)