A maior instituição de desenvolvimento da América Latina está preparada para desafiar a crescente preocupação ambiental sobre biocombustíveis emprestando dinheiro para um projeto brasileiro de etanol que vale mais de US$ 1 bilhão.
O conselho do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está preparado para aprovar nesta quarta-feira (23) propostas para fornecer um empréstimo por 15 anos de US$ 260 milhões para três novas usinas de etanol que estão sendo construídas pela Santa Elisa Vale do Rosário, uma companhia brasileira, e grupos de capital privado americanos.
A instalação - que também terá um crédito de banco comercial de US$ 360 milhões - seria a maior já construída por uma instituição multilateral para uma iniciativa de combustível verde. Mas talvez não seja popular entre os acionistas minoritários do BID. "É um projeto duro para o BID", disse Sylvia Larrea, a executiva que dirige o projeto no banco. "Há debates acalorados no mercado."
Os constantes aumentos dos preços internacionais do petróleo provocaram o interesse pelos combustíveis verdes como etanol e biodiesel, mas as iniciativas ficaram cada vez mais polêmicas nos últimos meses em conseqüência dos fortes aumentos nos preços dos grãos e outros alimentos básicos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu na semana passada sobre o impacto das plantações para fabricar biocombustíveis, sugerindo que elas contribuem para aumentar o preço dos alimentos.
Os defensores latino-americanos dos biocombustíveis como Larrea, porém, afirmam que o Brasil produz etanol de cana-de-açúcar e não de cereais comestíveis como milho, processo amplamente considerado mais eficaz do ponto de vista energético.
Eles também rejeitaram acusações de críticos ambientais de que a produção de açúcar ligada ao etanol no Brasil está contribuindo para o desmatamento da Amazônia, dizendo que o açúcar é plantado principalmente no sul e centro do país, a milhares de quilômetros da floresta tropical.
"A opção não é realmente entre comida e combustível", disse Luis Alberto Moreno, presidente do BID. "A opção é entre biocombustíveis sustentáveis e insustentáveis. Estamos convencidos de que certos países latino-americanos têm condições ideais para produzir biocombustíveis de maneira sustentável."
Larrea notou que o interesse pelos novos combustíveis está crescendo na Colômbia e os plantadores de açúcar na América Central e no Caribe também investiram em combustíveis alternativos.
Ela justificou o apoio do banco ao projeto afirmando que oferecer financiamento em longo prazo em termos mais flexíveis permitirá que os diretores do projeto invistam mais em novas tecnologias que estão em rápida evolução.
A usina incluirá uma instalação para transformar em energia os dejetos produzidos depois que a cana-de-açúcar é esmagada, ajudando a aumentar a eficiência geral.
(Por Richard Lapper,
Financial Times, 22/07/2008)