Entrevista: Guilherme Cassel, Ministro do Desenvolvimento Agrário
Crítico da redução da Faixa de Fronteira, que atinge diretamente investimentos na área florestal gaúcha, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, reforça a ZH que o governo Lula ainda não tem posição definitiva sobre o assunto.
Zero Hora - Como estão as tratativas dentro do governo para a definição de mudanças na Faixa de Fronteira?
Guilherme Cassel - Essa não é uma prioridade do governo. Particularmente, acho que o problema de desenvolvimento da Metade Sul do Estado não tem nada a ver com área de fronteira. O Noroeste do Estado tem fronteira e se desenvolveu, o Paraná também. O governo está acompanhando as discussões com cuidado e não tem posição fechada.
ZH - O senhor tem participado do grupo de trabalho que está discutindo o tema. Que resoluções serão tomadas?
Cassel - Estamos trabalhando muito, mas o parecer será sobre aquisição de terras por estrangeiros. Qualquer país do mundo quer ter controle sobre seu território. Não podemos acordar um belo dia e ver que uma parte importante do país está em mãos de uma empresa estrangeira. A idéia do parecer é que se tenha mecanismos de controle e limitações. Hoje não se sabe quem compra e quem deixa de comprar. Acredito que nas próximas semanas teremos novidades.
ZH - O senhor acredita que esse debate está contaminado por posições ideológicas?
Cassel - Não. A gente tem de eliminar isso de uma vez por todas e achar um caminho de desenvolvimento. Se alguém me convencer que a área de fronteira é um entrave, então vamos removê-lo. Mas não é razoável tratar o problema a partir do interesse de uma empresa estrangeira (a Stora Enso), que se instalou no país e cometeu um conjunto de ilegalidades. Eles estiveram aqui conversando comigo, querem comprar 130 mil hectares. Dizem que já compraram 47 mil, mas nem eles sabem direito. Vamos dar um jeitinho para tornar legal, mudando a lei? Isso é anacrônico, uma postura atrasada. Não tenho nenhum problema em rever área de fronteira, desde que esteja vinculado a um modelo de desenvolvimento.
ZH - Uma alternativa seria a criação de regras específicas para cada região. O senhor concorda com essa possibilidade?
Cassel - Se for uma estratégia de desenvolvimento, concordo. Não podemos ser sectários. Não é uma questão de princípio mudar as áreas de fronteira, mas tem de ser para trazer riquezas para a região.
(Zero Hora, 23/07/2008)