Mobilidade, sustentabilidade e identidade, ou coexistência de diversidades, foram os três temas abordados por Jaime Lerner, arquiteto, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, na tarde desta terça-feira (22/07), no encerramento do fórum Porto Alegre, uma visão de futuro. Lerner foi um dos painelistas que falou sobre Experiências Contemporâneas de Renovação Urbana. Os outros dois são o urbanista catalão Jordi Borja e o arquiteto norte-americano Charles Duff.
Conforme salientou Lerner, a cidade não é o problema, é a solução. "No mundo há uma visão pessimista em relação ao futuro das cidades". O arquiteto disse não concordar com essa idéia: "É uma visão pessimista em relação às cidades. Não acredito em projeções trágicas sobre aumento de população. Prefiro usar minha energia em mudar essas tendências". Disse pensar que a realização do fórum corrobora essa tendência. "Aqui se quer isso", afirmou.
Mudanças
Com larga experiência internacional em urbanismo, Lerner salientou que para mudar é preciso vontade política. "Mas é preciso também ter visão de solidariedade, e isso existe dentro dos cidadãos". Afirmou ser necessário também visão estratégica: "Sem isso tudo se perde. É preciso saber transformar problemas em soluções". Conforme ele, qualquer cidade pode mudar sua qualidade de vida em três anos. "Não importa o tamanho dos problemas, das cidades e dos recursos financeiros".
Lerner falou sobre livro que escreveu onde explica a cidade para crianças, jovens e adultos. No texto, como disse, compara o mapear urbano à uma tartaruga. "É o melhor exemplo de vida, mobilidade e trabalho. Se o casco for recortado, ela morre. E é o que estamos fazendo com as nossas cidades." Outro exemplo do livro citado foi o automóvel: "É uma sogra mecânica. Precisamos ter boas relações, não deixando que comande nossas vidas". Para resolver o problema, como destacou, é preciso considerar mobilidade, sustentabilidade e identidade. "Com isso resolvemos as cidades e a humanidade".
Transporte
Em sua explanação, o ex-governador do Paraná lembrou ser importante pesquisar novos materiais para construção, novas formas de energia, e incentivar a reciclagem. "Mas não é tudo. Uma cidade é a espinha que une vida, mobilidade e trabalho". Lerner disse ser necessário empregar resultados mais efetivos, principalmente na questão do transporte urbano onde, como declarou, é preciso, para se conseguir bons resultados, juntar no mesmo espaço ônibus e metrô. "Pista exclusiva, sistema de embarque e frequência são condições necessárias para se ter um transporte de massa eficiente", afirmou.
O sistema francês de aluguel de bicicletas também foi citado como uma maneira de se resolver os problemas da mobilidade urbana. "É um veiculo individual, mas é um sistema de transporte coletivo", afirmou. "Devemos pensar ainda em juntar bicicleta com um pequeno carro. O transporte de rotina deve ser feito com o transporte coletivo". O arquiteto também revelou que vem trabalhando atualmente no protótipo de um pequeno carro, batizado de Dockdock.
Sustentabilidade
Ao abordar a questão da sustentabilidade, Lerner disse que fez um filme para crianças onde esse tema é ensinado de forma didática. "Ali falamos sobre poupar mais e desperdiçar menos, morar perto do trabalho, separar lixo e ter multiusos em espaços urbanos". Lembrou que Curitiba tem atualmente uma taxa de 70% na separação do lixo. "Com isso não se faz teste. Ou se faz ou não se faz". Outra sugestão apresentada foi de somar o trabalho formal com o informal, principalmente na questão de uso de espaços urbanos como estádios, praças. "Para o multiuso, basta programar antes".
Lerner também destacou a importância de se conservar e acentuar as características de uma cidade, no que denominou de coexistência de diversidades ou identidade. "Uma cidade é o retrato de família. E não se rasga um retrato de família", salientou. Conforme disse, quando há um problema, é preciso ter também um sonho, mas sendo este sempre maior do que apenas resolver o problema. "Não há sapo que não se transforme em princípe. Depende apenas do beijo".
(Por Helio Panzenhagen, Ascom CMPA, 22/07/2008)