Uma dupla de biólogos lança hoje (22) uma proposta para a reclassificação dos ecossistemas de campos abertos localizados em meio à floresta amazônica. Os cientistas afirmam que essas áreas devem ser classificadas como "zonas úmidas" -ao lado de pântanos, charcos e mangues- o que daria a elas um status de proteção especial.
Elaborada pelos ecólogos Mario Cohn-Haft, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Marion Adeney, da Universidade Duke, da Carolina do Norte (EUA), as bases científicas da proposta serão apresentadas hoje à tarde em Cuiabá (MT), na 8ª Intecol, a Conferência Internacional de Áreas Úmidas.
"Nosso argumento é que todas as variedades de ambientes abertos -savanóides- na Amazônia são, de fato, "wetlands" [zonas úmidas] e como tal se qualificam para tratamento especial", diz Cohn-Haft. "Elas contém uma biodiversidade endêmica [restrita a cada local] e são tão especiais que merecem ser reconhecidos como um bioma em si. Como são "wetlands" de importância biológica e grau de ameaça elevado, são sujeitas a proteção integral e categórica no âmbito da Convenção de Ramsar, da qual o Brasil é signatário."
Esse tratado, vigente desde 1975, prevê um status de tratamento diferenciado para áreas naturais que tenham o solo inundado durante grandes períodos. São áreas de importância ecológica abrangente e fundamentais, por exemplo, para a sobrevida de aves migratórias.
No Brasil, porém, as zonas úmidas amazônicas eram pouco conhecidas, e sua classificação como tal dependia de uma melhor caracterização por biólogos. "Nós estamos apresentando uma variedade de evidências para alagamento nessas áreas em várias localidades ao longo da bacia Amazônica e argumentamos que, como tal, esses habitats são de fato zonas úmidas", escrevem os biólogos.
Vastos campos alagáveis existem no sudeste do Amazonas e no norte de Roraima, incluindo áreas dentro da terra indígena Raposa/Serra do Sol.
(Por Rafael Garcia, Folha de S. Paulo, 22/07/2008)