A receita foi dada pela ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva, durante a 60ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A senadora defendeu a necessidade de conciliar os aspectos científicos com dinâmicas locais da floresta. A próxima reunião da SBPC será realizada, em 2009, em Manaus.
“Estou completamente de acordo com o documento lançado aqui em relação aos aspectos que abordam ciência e tecnologia, como a construção de novas universidades, instituições técnico-científicas associando o ensino à pesquisa em tecnologia, assim como o fortalecimento da pós-graduação e de redes de informação na Amazônia”, afirmou a senadora Marina Silva durante, no encerramento da 60ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas. O próximo encontro será justamente na região que foi objeto de cinco núcleos temáticos de discussões durante a reunião, a Amazônia. Segundo o presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp, os debates instaurados durante a última semana são o pano de fundo do que será tratado em Manaus, no próximo ano.
A importância da decisão foi grifada por Marina Silva. Segundo ela, não há dúvida de que o aumento do conhecimento científico sobre a região amazônica é a estratégia fundamental para viabilizar os eixos de crescimento sustentável. No entanto, para a senadora, a questão é saber como conciliar os aspectos científicos com outras dinâmicas. “Até mesmo porque você não pode simplesmente suprimir a dinâmica social, que tem a ver com o que está acontecendo no território, com o conhecimento que já está produzido e com uma série de políticas e acontecimentos regionais”. O que precisa ser estudado, segundo ela, é a melhor forma de mediação do conhecimento científico com as demais dinâmicas sociais e culturais ocorridas na região.
O projeto “Amazônia: Desafio Brasileiro do Século 21 – A necessidade de uma revolução científica e tecnológica”, desenvolvido pela SBPC em conjunto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi elogiado por Marina Silva, que indicou defender as propostas no Congresso Nacional. “Não há dúvida que o aumento de conhecimento sobre a região é uma estratégia fundamental para viabilizar a estrutura logística necessária, o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e o ordenamento territorial e fundiário”, afirmou.
O documento lista como desafios urgentes para enfrentar a questão do desenvolvimento sustentável na Amazônia a criação de novas universidades públicas na região, o surgimento de institutos científico-tecnológicos associados ao ensino e à pesquisa, o fortalecimento da pós- graduação e de redes de informação sobre a floresta e nos estados onde ela está.
O país forma mais de 11 mil doutores por ano. Segundo avaliação da ABC, as ações de formação e atração de docentes e pesquisadores altamente qualificados para a região serão infrutíferas se não forem assegurados mecanismos efetivos de contratação dos mesmos pelas instituições de ensino superior ou pelos institutos de pesquisa. Isto somente pode ser assegurado com uma política direcionada para a região, pois envolve decisões de diversos ministérios.
Ainda segundo o documento, para garantir a fixação de docentes e pesquisadores em número adequado é necessário romper com “a igualdade aparente que só leva a preservação dos desequilíbrios. Vagas induzidas para a região são imperativas, tanto de pesquisadores e docentes, quanto de técnicos habilitados a atuar em laboratórios avançados de pesquisa”.
Outra questão trazida à tona pela senadora foi a do acesso ao patrimônio genético para pesquisa. O primeiro projeto entregue por Marina Silva ao Senado foi justamente sobre o acesso a estes recursos. Para ela, é uma maneira de valorizar a floresta em pé e os conhecimentos tradicionais associados, além de proteger a biodiversidade. “Infelizmente, o projeto não foi aprovado. Foi apresentada uma medida provisória pelo governo, que não atendia adequadamente às necessidades de uma regulação tão complexa. No ministério, fizemos esforços para recuperar o projeto, mas houve uma dificuldade muito grande na interface entre os diferentes ministérios”, disse.
Falta de medidas integradas atrasa redução do desmatamento
A complexa questão do desmatamento da Amazônia, e a possibilidade de rastreá-lo, também foi tema da 60ª Reunião da SBPC. De acordo com a mesa, coordenada por Peter Mann de Toledo, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), a falta de consenso entre as várias partes interessadas é que contribui para que a floresta continue sendo degradada. “Vamos pagar um preço ainda mais alto para aprendermos a lidar com a questão da Amazônia”, enfatizou Gilberto Câmara, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No início do ano, a sociedade brasileira ficou sabendo pela imprensa a polêmica em torno da credibilidade dos dados divulgados entre outubro e dezembro de 2007 pelo Inpe sobre o desmatamento da Amazônia. Segundo Câmara, os resultados de um relatório recente confirmaram a eficácia do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), indicando que cerca de 88% das áreas analisadas se confirmaram como correspondendo a desmatamentos. A instituição acredita que os resultados deverão aumentar a confiança do governo e da sociedade nas indicações do sistema.
(Por Clarissa Pont, CartaMaior, 21/07/2008)
* Com informações de SBPC