Uma pesquisa publicada em junho deste ano pela Univix revelou que os capixabas demonstram ter pouco interesse pelas questões ambientais. Segundo a professora Gina Strauch Serafim, coordenadora da pesquisa, o desinteresse e a falta de informação por parte dos entrevistados foram os aspectos que mais chamaram atenção dos pesquisadores.
O estudo foi desenvolvido por um grupo de 26 estudantes do curso de Direito da Univix. Os alunos foram a campo para saber qual a "Percepção da Sociedade Capixaba sobre Legislação Ambiental Básica". Os pesquisadores ouviram 1028 pessoas de oito municípios capixabas - quatro da Grande Vitória (Vitória, Viana, Vilha Velha e Cariacica) e outros quatro do interior do Estado (Cachoeiro de Itapemirim, Aracruz, Montanha e Domingos Martins).
A maioria dos entrevistados (62,5%) tem formação de nível superior ou médio. A idade variou entre 30 e 31 anos, com limites extremos entre 18 e 84 anos. A pesquisa revelou dados interessantes, mais da metade dos entrevistados (50,8%) apontou as indústrias como as principais responsáveis pelos impactos ambientais. Apenas 8,11% disseram acreditar que o governo age eficazmente em relação ao meio ambiente; enquanto somente 6,6% afirmaram que as associações comunitárias têm preocupação com as questões ambientais. Dentre os problemas que mais afetam a saúde da população, a poluição do ar aparece como principal vilã para 67,8% dos entrevistados.
ContradiçõesObservando alguns dados do estudo é possível perceber algumas contradições, ao mesmo tempo em que as pessoas procuram demonstrar preocupação com as questões ambientais, nota-se, a partir de outras respostas, que os entrevistados praticamente não desenvolvem nenhuma ação efetiva em benefício do meio ambiente.
A professora Gina Serafim é ainda mais crítica. “Acho que mesmo essa possível demonstração de preocupação ainda foi muito aquém do que o assunto merece. Quando analisamos os dados que apontam se há uma participação mais efetiva nas questões ambientais, percebemos que o envolvimento é realmente muito tímido. Apenas 7,2% dos entrevistados admitiram conhecer alguma ONG (Organização Não-Governamental) ambiental no município onde mora; e somente 12% disseram que procuram informações na internet relacionadas ao meio ambiente. Quando perguntamos se as pessoas desenvolvem ou já desenvolveram alguma atividade ligada ao meio ambiente junto à comunidade, constatamos que apenas 8,4% dos entrevistados destacaram a importância da participação em atividades diretamente ligadas ao meio ambiente em suas comunidades”.
As contradições ficam ainda mais evidentes quando 73,7% afirmam que confiam no trabalho das ONGs, entretanto, apenas 7,2% dos entrevistados admitem conhecer alguma organização social.
VilõesDe acordo com a pesquisa, a indústria, o governo, a agricultura, o comércio e a própria população são os principais responsáveis pela geração de impactos ambientais, sendo que a indústria fica no topo da lista na opinião de 50,8% dos entrevistados, que apontaram a atividade industrial como a grande vilã dos impactos ambientais no Estado. Para a professora Gina Serafim, as indústrias têm a sua parcela de culpa, mas não estão sozinhas. “A própria sociedade tem responsabilidade, não só pela sua postura, muitas vezes, egoísta, mas também pelo fato de se omitir e de não cobrar. Essa questão é extremamente complexa. Às vezes falta informação por parte do governo e a população, por sua vez, alega que não faz porque não sabe e assim vamos seguindo. É difícil atribuir a culpa a um único agente, todos nós somos responsáveis. Se o governo não faz, cabe à sociedade cobrar, exigir, fiscalizar”.
Licenciamento ambientalPara Patrícia Gazolla, também professora do curso de Direito da Univix, procuradora do município de Vitória e uma das coordenadoras da pesquisa, o licenciamento ambiental é um grande "balcão de negócios". "Quem é amigo dos conselheiros consegue todas as vantagens, enquanto quem não é fica obrigado a cumprir uma série de exigências absurdas, do contrário nada é aprovado. Quando eu digo que o licenciamento ambiental se torna um grande balcão de negócios é porque também a própria população não participa das audiências públicas. A sociedade precisaria estar mais presente para saber o que está sendo votado", afirmou Patrícia Gazolla.
(Por Jose Rabelo,
Século Diário, 21/07/2008)